Título: NA CONTRAMÃO DA RIQUEZA
Autor: Selma Schmidt, Luciana Rodrigues e Bruno Rosa
Fonte: O Globo, 12/10/2006, Economia, p. 31

PIB `per capita¿ cresceu 15% no Estado do Rio, mas caiu 27% na capital em seis anos

Omunicípio do Rio está mais pobre e menos dinâmico. É o que conclui a Fundação Centro de Informações e Dados do Estado do Rio (Cide), ao comparar o Produto Interno Bruto per capita da cidade (toda a riqueza produzida dividida pela população) entre 1999 e 2005. A renda per capita anual do carioca caiu do equivalente a R$26.825,13 em 1999 para R$19.640,97 em 2005. Ou seja, está 26,78% menor.

A capital fluminense foi na contramão do restante do país. Nesse mesmo período, houve avanço no PIB per capita do Estado do Rio (14,8%) e também do Brasil (6,5%).

O presidente da Fundação Cide, Ranulfo Vidigal, explica que a cidade do Rio não abriga os segmentos dinâmicos da economia fluminense: naval (Niterói e Angra), automobilístico (Médio Paraíba) e petróleo (Norte Fluminense). Outra explicação, segundo ele, é que o Rio tem uma economia madura e baseada no setor de serviços, que cresce na mesma proporção do aumento populacional.

¿ A tendência, no entanto, é que a situação mude nos próximos cinco anos. A expansão do Porto de Itaguaí está atraindo investimentos para a Zona Oeste. A siderúrgica Thyssen CSA, por exemplo, vai se instalar em Santa Cruz. E a futura refinaria de Itaboraí tende a ter impacto direto na capital, que deverá fornecer quadros técnicos. O Rio também deve ser beneficiado com repasse de royalties da Bacia de Santos (a Petrobras confirmou este mês a descoberta de óleo leve nesta bacia) ¿ afirma Vidigal.

O economista Jorge Natal, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ, lembra que o Rio seguiu a tendência internacional dos grandes centros urbanos, que deixaram de ser pólos industriais para se transformarem em capitais apenas da gestão de empresas. Mas Natal se surpreendeu com a magnitude da queda no PIB per capita dos cariocas:

¿ O Rio recebeu muitos investimentos no setor de serviços, como os de empresas de telefonia. É algo assustador pensar numa perda de mais de um quarto da renda.

Porto Real, Macaé e Piraí são destaque

Dos 92 municípios fluminenses, um terço sofreu queda no PIB per capita entre 1999 e 2005. A indústria automobilística colocou Porto Real no topo do ranking dos municípios com maior ganho de renda per capita: 369%. A cidade abriga, desde 2001, uma fábrica da PSA Peugeot Citroën.

Carmo aparece em segundo lugar, graças a uma usina da Light instalada no local. A cidade, porém, continua sendo um município pobre, de renda per capita baixa (R$19.224 ao ano). Só para se ter uma idéia, a população ocupada em Carmo diminuiu 35% neste período.

Piraí ficou no terceiro lugar, com 81% de ganho de renda entre 1999 e 2005. Lá, existe um forte pólo de alimentos e bebidas. E Macaé teve aumento de 78% no PIB per capita.

Professor da UFF de Economia Regional, Franklin Dias Coelho destaca que Piraí é o melhor exemplo de expansão baseada no desenvolvimento local. Em Macaé, a riqueza veio principalmente do petróleo. Apesar de a Fundação Cide não considerar os recursos obtidos diretamente da extração do petróleo, há efeitos indiretos que aparecem na renda per capita. E, em Porto Real, segundo Coelho, a atividade econômica depende praticamente de uma única empresa.

¿ Piraí, depois de uma crise em 1997 com demissões provocadas pela privatização da Light, deu a volta por cima com uma articulação entre agricultores, indústria e cooperativismo. Lá, a dinâmica vem de dentro para fora ¿ explica Coelho.

Enquanto, na média, a renda avançou mais no Estado do Rio do que no Brasil, o emprego formal teve expansão menor aqui. Com base na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad, do IBGE), a Fundação Cide constatou que as vagas com carteira assinada e no serviço público tiveram acréscimo de 21% no Estado do Rio nesse período, contra um avanço de 32% no Brasil.

¿ O tipo de indústria que temos aqui é intensiva em capital e requer pouca mão-de-obra ¿ diz Vidigal.

Informais superam vagas com carteira

Em 2005, havia mais trabalhadores na informalidade do que no mercado formal do Estado do Rio. Ao todo, 3.465.250 eram sem carteira assinada ou conta própria, contra 3.191.684 empregados com carteira ¿ uma diferença de 300 mil.

O paraibano Francisco Assis, de 36 anos, engrossa essa estatística. Após sair do Nordeste para tentar a sorte no Rio, ele percebeu que o emprego formal era uma realidade distante:

¿ Trabalhar com carteira assinada é um sonho. Não sei se um dia conseguirei ter esse privilégio.

Sob sol quente, o vendedor de panos e toalhas conta que não tem dinheiro nem para a passagem de ônibus. Por isso, apelou para a criatividade. Montou sua barraca em cima de uma bicicleta. Na parte dianteira, toalhas e enfeites para garrafas. Do outro lado, panos de pratos.

¿ Moro em Santa Teresa e trabalho na Tijuca. Venho de bicicleta. Só assim consigo economizar ¿ explica Francisco, lembrando que sua mulher está desempregada.

Numa comparação entre os 92 municípios do estado, Porto Real desponta como o que teve maior aumento de emprego formal: 468% entre 1999 e o ano passado.

¿ Analisando os pólos regionais, Volta Redonda (12,22%) e Resende (19,05%) não foram bem, enquanto Macaé (121,19%) apresentou um bom resultado ¿ disse Vidigal.