Título: Nossa classe política é velha e corrupta¿
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 12/10/2006, O Mundo / Ciência e Vida, p. 40

QUITO. O sociólogo Paul Bonilla, da Universidade Central do Equador, em Quito, afirma que a única saída para o país é uma mudança radical em seu quadro político. ¿Na América Latina, um certo autoritarismo e nacionalismo às vezes é necessário¿, defende.

Por que há tanta insatisfação com os políticos no Equador?

PAUL BONILLA: Nossas leis e a máquina estatal funcionam como se vivêssemos num outro país. Não sabemos votar e muitas vezes não temos escolha. Nossa classe política é velha, corrupta e não tem nenhum mecanismo que as obrigue a prestar contas sobre seu trabalho. Por isso, a única saída, quando um líder nos deixa muito insatisfeitos, acaba sendo tomar as ruas, protestar e ver se alguém dá um golpe. Isso ocorreu freqüentemente nos últimos 10 anos. Necessitamos, portanto, de uma completa reformulação política.

Rafael Correa propõe dissolver o Congresso. Isso seria uma saída possível?

BONILLA: A única, eu acho. Porque ele é o único candidato que não possui nenhum deputado ou partido aliado, é completamente independente. Pode parecer estranho para os estrangeiros, elegeremos um Congresso novo no domingo e, se Correa ganhar, ele logo será extinto. Mas assim é o Equador (risos). Só assim poderemos criar um conjunto de leis que pode impulsionar uma mudança completa no sistema.

Há risco de se cair no autoritarismo?

BONILLA: Na América Latina, a história nos ensina que um pouco de autoritarismo e um pouco mais ainda de nacionalismo beneficiam a democracia. Um governo populista, como o da Venezuela, às vezes toma medidas autoritárias que se revertem para o bem. Caso contrário, o presidente Hugo Chávez não seria sempre legitimado nas ruas.

Teme-se uma influência exacerbada da Venezuela caso Correa seja eleito?

BONILLA: Não. Se Chávez nos ajudar a construir pelo menos duas refinarias, se isso nos fizer comercializar mais petróleo, precisar importar menos derivados e tivermos um governo mais comprometido com a população, quem sabe poderemos nos desenvolver mais. Essa é a esperança. Todos estamos cansados. (M.T.C.)