Título: DESCONFIANÇA MARCA ELEIÇÕES NO EQUADOR
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 12/10/2006, O Mundo / Ciência e Vida, p. 40

Às vésperas do pleito, somente 3% dos equatorianos acreditam nos partidos e 30% não sabem em quem votar

QUITO. O vôo de Bogotá para a capital do Equador atrasou mais de cinco horas porque chovia granizo em Quito. Quando finalmente pousou, um sol forte enfeitava a paisagem, cercada pelas montanhas andinas. Da janela, o engenheiro agrônomo Hanvel Velasco, de 32 anos, conversava sobre suas expectativas para as eleições presidenciais do próximo domingo:

¿ No Equador, a política é igual ao tempo: maluca e muda a toda hora.

Suas declarações têm fundamento. O Equador é considerado uma das democracias mais frágeis da América Latina. Em dez anos, nada menos do que oito presidentes passaram pelo Palácio Corondolet. Uma pesquisa recente do Cedatos, vinculado ao Instituto Gallup, mostrou que somente 3% dos 13 milhões de equatorianos confiam em seus partidos políticos, e apenas 7% acreditam no Congresso, que também será renovado no domingo.

Rafael Correa lidera com 36% das intenções

É nesse cenário de divisão, instabilidade e incerteza que os equatorianos votam. Os perfis dos candidatos à presidência não poderiam ser mais diferentes. Rafael Correa, da Aliança País, está em primeiro lugar nas pesquisas, com 36% das intenções de voto.

O economista de 43 anos estudou e lecionou em universidades americanas e trabalhou no Banco Mundial. Boa pinta e carismático, sua única experiência política foi ter sido ministro da Fazenda por alguns meses. Com discurso nacionalista e próximo ao do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Correa chegou a declarar que ele, o líder da Venezuela, o presidente da Bolívia, Evo Morales, e o presidente Lula fariam ¿parte da corrente que arrasa na América do Sul¿.

Em segundo lugar, praticamente empatados, dois candidatos: o milionário exportador de bananas Álvaro Noboa, do Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian), com 19% das intenções de voto, que defende uma política mais neoliberal, e Léon Roldos, da Rede Ética e Democracia, de centro-esquerda, com 20% ¿ de quem pode-se esperar uma maior presença do Estado na economia e na política, mas de forma menos radical do que Correa. Correndo por fora, a única mulher entre os 13 candidatos, Cynthia Vieri, do conservador Partido Social Cristão, com cerca de 7%.

¿ O que surpreende é o grande número de indecisos: mais de 32% ainda não sabem em quem votar ¿ disse ao GLOBO Angel Polibio Córdova, presidente do Cedatos, lembrando que cerca de 100 observadores da OEA fiscalizarão o pleito.

Córdova acha que a eleição pode ir para o segundo turno.

¿ Resta saber quem vai com Correa. A campanha de Noboa vem se destacando nessa reta final. Mas Róldos é um político muito respeitado e, como é de centro-esquerda, pode roubar votos de Correa.

Correa encontra resistência entre muitos setores por seu discurso contra o ¿imperialismo americano¿ e sua idéia de, se eleito, dissolver o Congresso para convocar uma nova Assembléia Constituinte, com o objetivo de ¿provocar mudanças radicais¿. Além disso, já expressou seu desejo de desdolarizar o país (a moeda oficial é o dólar desde 2001, o que acabou ajudando a controlar a inflação, hoje em torno de 3% ao ano) e não pagar a dívida externa, em torno de US$11 bilhões.

Teme-se ainda que a Venezuela passe e exercer uma influência perigosa no país, por causa do petróleo. Apesar de produzir 300 mil barris dia e exportar petróleo bruto, o Equador precisa importar uma série de derivados.