Título: DIVISÃO TAMBÉM NA ANÁLISE DAS PRIVATIZAÇÕES DA VALE E DA TELEFONIA
Autor: Cássia Almeida e Martha Beck
Fonte: O Globo, 13/10/2006, O País, p. 12

Argumentos vão de decisão inevitável a perda de ativos importantes

RIO e BRASÍLIA. A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anteontem, de que não teria vendido a Companhia Vale do Rio Doce e o Sistema Telebrás também dividiu economistas ouvidos pelo GLOBO. Os que apóiam dizem que o Estado não tinha mais condições de investir e que a privatização era um caminho inevitável. Os que foram contra a venda das estatais, como Lula, acreditam que o então governo demonstrou incapacidade de gestão ao abrir mão de ativos importantes, como essas estatais.

O ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas afirmou que a privatização, principalmente da telefonia, era necessária, já que o Estado não tinha condições para investir no serviço. E os números mostram que os acessos aumentaram de forma exponencial. Em 1998, ano da privatização, eram cerca de 15,5 milhões de acessos instalados. Este ano, o número saltou para 42,1 milhões, um avanço de 180%:

¿ A telefonia cresceu com a privatização ¿ diz Freitas.

Apesar de concordar com a venda das estatais, Freitas critica o processo de privatização pela forma açodada como foi conduzido:

¿ O objetivo de reduzir a dívida pública não foi alcançado. Pelo contrário, aumentou-se muito o endividamento. Além disso, usou-se dinheiro público, do BNDES, para financiar os compradores. Se a venda acontecesse mais lentamente, teríamos conseguido um preço melhor. Mas o governo, na época, precisava dos dólares para fechar as contas.

Economista e ex-secretário de finanças da prefeitura de São Paulo no governo Luiza Erundina, Amir Khair concordou com as declarações de Lula:

¿ A privatização é uma confissão de incapacidade de gestão. O presidente Fernando Henrique Cardoso vendeu um patrimônio importante do país para fechar as contas.

Para ele, o governo deveria ter feito um trabalho sério de gestão nas contas públicas para apresentar resultados fiscais melhores e não abrir mão de ativos importantes.

Economista não acha preciso mais privatizações

O economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Paulo Nogueira Batista Júnior também afirma que a privatização da Vale do Rio Doce foi um erro, pois a empresa era um ativo importante que apresentava bons resultados para as contas públicas. Ele também disse que não vê necessidade de o país passar por uma nova fase de privatização.

¿ As principais estatais hoje são Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Petrobras. É importante que existam bancos federais públicos. Já a Petrobras também é um ativo importante, que tem um papel estratégico para a economia do país. Não vejo necessidade de novas privatizações.

Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset, nem acredita que as afirmações de Lula traduzam o pensamento do governo:

¿ Acredito que sejam afirmações movidas pelas eleições. É inegável que as privatizações foram acertadas. Basta ver o desempenho da Vale do Rio Doce.

Maia afirma que a empresa só conseguiu alcançar o tamanho que tem atualmente ¿ o faturamento bruto, em termos nominais (sem correção pela inflação, que de 1997 a 2005 foi de 80,38%), passou de R$5 bilhões para R$35 bilhões, um avanço de 600% em nove anos ¿ sem um fluxo de investimento constante que veio com a privatização:

¿ A Vale não seria a multinacional de hoje, com geração de emprego e renda, sem os investimento feito nesses anos. Na telefonia aconteceu a mesma coisa ¿ afirmou Maia.

(C.A. e M.B.)