Título: ECONOMISTAS SE DIVIDEM SOBRE PIB 5% MAIOR
Autor: Cássia Almeida e Martha Beck
Fonte: O Globo, 13/10/2006, O País, p. 12

Queda de juros elevaria crescimento, dizem uns, enquanto outros afirmam que reforma tributária é imprescindível

RIO e BRASÍLIA. A afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que é possível a economia brasileira crescer 5% ou mais nos próximos anos, sem a necessidade de reformas, dividiu economistas. Para os que concordam com a afirmação feita pelo presidente ¿ em entrevista concedida ao GLOBO e publicada ontem ¿, o principal entrave ao crescimento são os juros altos, mas a taxa vem caindo desde setembro de 2005. Hoje, a taxa básica da economia, a Selic, está em 14,25% ao ano, e os juros reais (descontada a inflação), em torno de 11%. A expectativa desses economistas é que a taxa fique entre 8% e 9% em 2007, impulsionando a economia.

Já quem discorda das declarações de Lula afirma que as condições atuais permitem, apenas, que se acelere um pouco o avanço do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas geradas no país), da média de 2,5% dos últimos 25 anos para 3,5%.

¿ Para o próximo biênio, o crescimento está dado e pode ficar entre 4% e 5%. Os juros estão baixando, não há restrições de oferta, as condições externas são favoráveis e o dólar deve ter uma pequena valorização em 2007 ¿ disse o ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas.

Opinião oposta tem o economista-chefe da GAP Asset, Alexandre Maia. Para ele, é uma falácia eleitoral:

¿ Com essa carga tributária de 38% do PIB é impossível crescer 4% a 5% ao ano. Essa afirmação não tem respaldo na realidade. Sem reformas e marcos regulatórios, não daremos o salto de que o país precisa.

Reformas não teriam efeito logo

Freitas pondera que a reforma da Previdência poderia dar um sinal para os agentes econômicos:

¿ A discussão de grandes reformas pára o país, reduzindo ainda mais o crescimento.

Mesma opinião tem o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP):

¿ Concordo (com o presidente). O Brasil precisa de muitas reformas. Mas elas não são condição para que o país cresça 5%.

Segundo o ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo Amir Khair (na gestão de Luiza Erundina), os principais empecilhos ao crescimento da economia já foram superados. Segundo ele, as contas externas estão sólidas e a inflação, sob controle.

O diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, vê nos juros o grande vilão:

¿ Há uma preocupação enorme com os gastos públicos e ninguém fala dos juros.

Marco Antônio Franklin, sócio da Plenus Gestora de Recursos, não espera um crescimento de 5% no PIB sem a reforma tributária.

¿ Com a queda dos juros, a dívida interna cairá e permitirá a diminuição da carga de impostos. Só assim teremos crescimento sustentado.

Já Maia, da GAP, acrescenta que é imprescindível desvincular o valor do salário mínimo dos benefícios da Previdência:

¿ Não há condições de se continuar a dar reajustes reais ao salário mínimo como tem sido feito nos últimos anos.

Khair, que vê as condições para o crescimento de 5%, lembrou que, enquanto o governo gastou R$157 bilhões com o pagamento de juros da dívida ano passado, o déficit da Previdência foi de R$37,5 bilhões e as despesas do governo com pessoal, de R$93 bilhões. Assim como Lula, Khair diz que o déficit da Previdência pode diminuir com melhorias de gestão.