Título: DEPOIS DE CORPOS, GOVERNO VAI BUSCAR PROVAS
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 13/10/2006, O País, p. 14

Segundo Infraero, próximo passo será fazer perícia no local do acidente e achar pistas para esclarecer colisão de aeronaves

BRASÍLIA. O governo vai intensificar a investigação no local do acidente com o Boeing 737-800 da Gol assim que for concluída a busca pelos corpos das vítimas, informou ontem o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. Ele acredita que essa nova fase deve começar em dois dias, prazo que estima ser necessário para que os quatro corpos restantes sejam encontrados. Mesmo com as apurações em curso, Pereira disse que um relatório preliminar sobre a causa do acidente será divulgado nos próximos dias.

O objetivo da comissão de investigação é periciar partes da aeronave destruída, o local do acidente, na Serra do Cachimbo, em Mato Grosso, e priorizar a busca de indícios que possam ajudar a esclarecer as circunstâncias da queda. Os investigadores tentarão encontrar também alguns componentes de uma das caixas-pretas da aeronave, que ainda não foram localizados mas que podem fornecer dados valiosos para a solução das causas do desastre, que deixou 154 mortos.

¿ Acredito que a busca pelos corpos termine rapidamente, em cerca de dois dias. Então, as equipes de investigação sobre as causas do acidente entrarão pesado na avaliação do local, em busca de indícios, e na análise de destroços ¿ afirmou o presidente da Infraero.

`Dados são incontestáveis¿

Ele voltou a defender a forma como as investigações estão sendo conduzidas e rebateu as críticas de que há pouca transparência por parte das autoridades. Os críticos são principalmente dos Estados Unidos, país dos dois pilotos do Legacy, Joe Lepore e Jan Paladino, que se chocou contra a aeronave da Gol.

¿ Não podemos divulgar dados parciais que possam gerar danos às pessoas envolvidas no episódio, temos que aguardar as conclusões. Mas as investigações estão correndo bem. Nos próximos dias, um relatório preliminar informando as linhas gerais das investigações e os dados incontestáveis deve ser publicado ¿ informou o presidente da Infraero, lembrando que o prazo para a apresentação do relatório final é de 90 dias a contar da data do acidente, que ocorreu em 23 de setembro.

Paralelamente, as equipes de resgate devem intensificar a busca pelos quatro corpos de vítimas que ainda estão desaparecidos. A partir de hoje, três cães farejadores do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal vão auxiliar nas buscas, de acordo com informações do Ministério da Aeronáutica. Ontem, mais três corpos ¿ encontrados na quarta-feira ¿ foram transportados para Brasília, numa aeronave C-130 Hércules da FAB. Os militares envolvidos nas buscas suspenderam a cabine da aeronave com o uso de macacos hidráulicos e colchões pneumáticos, mas não encontraram nenhum corpo no local.

Mais de 350 pessoas, entre militares da FAB e do Exército, bombeiros e peritos do Instituto Médico-Legal (IML), participam das operações de buscas. Somente ontem, segundo a Aeronáutica, 134 homens estiveram diretamente envolvidos nos trabalhos na Fazenda Jarinã e no local do acidente. Hoje, cerca de 60 pessoas devem pernoitar na selva.

Identificados até agora 140 corpos

Em Brasília, também avançou o processo de reconhecimento dos mortos na tragédia. Mais seis vítimas do acidente com o Boeing 737-800, da Gol, foram identificadas ontem pelo Instituto Médico-Legal da capital federal. Elas foram reconhecidas pela arcada dentária (método antropológico). Até o momento, o IML recebeu 145 corpos de vítimas, dos quais 140 foram identificados. Desse total, 125 já foram retirados do IML pelos familiares.

Foi sepultada ontem, no Memorial do Carmo, no Caju, mais uma vítima do acidente aéreo: Charlie Hudson Rangel de Oliveira. Ele tinha 27 anos e era gerente de logística da Ambev. Charlie deixa um filho recém-nascido. Em Goiás, foram enterradas outras duas vítimas do vôo 1907 da Gol: Marcelo Lopes, de 25 anos, e o empresário Salustiano Januário dos Santos Rocha, de 46 anos. Em Recife, também aconteceu um sepultamento.