Título: A REVISÃO DAS PRIVATIZAÇÕES É UM PROCESSO MUITO COMPLEXO¿, DIZ GARCIA
Autor: Raquel Miura, Alan Gripp e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 14/10/2006, O País, p. 4

Petista afirma que não daria para reestatizar empresas privatizadas

BRASÍLIA. Declarações do presidente do PT e coordenador da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, elevaram o tom do debate em torno das privatizações e dos gastos públicos. Garcia voltou a criticar o modelo de venda de estatais do governo Fernando Henrique Cardoso e rebateu as afirmações do ex-presidente, que desafiou Lula a reestatizar as empresas vendidas.

¿ A revisão das privatizações é um processo muito complexo, que teria impactos muito fortes na economia. Achamos que não deveríamos tomar iniciativa desse tipo. É mais ou menos como perguntar: ¿Se vocês foram contra aquela morte, por que não tentaram ressuscitar o morto?¿. O mal já está feito e o mal não é só o fato de ter privatizado, mas também a forma pela qual foi feita, os resultados obscuros e o fato de esse dinheiro não ter aliviado a carga fiscal ¿ disse.

Garcia diz que atitude de FH foi malandra

Garcia disse em tom de ironia que a atitude de Fernando Henrique, ao desafiar Lula a retomar empresas públicas privatizadas, ¿é malandra¿, pois, segundo ele, o ex-presidente sabe ¿que o mal já foi feito¿. Ele também rebateu as críticas de que o PT faz terrorismo eleitoral. Segundo ele, dizer que o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, se eleito, fará privatizações não é espalhar o medo porque, disse, há indícios de que os tucanos pretendem retomar a venda de estatais:

¿ Há fundados indícios de que um eventual governo Alckmin fará inflexões importantes na economia brasileira, que levariam a uma direção perniciosa para o país. Uma delas é, efetivamente, a retomada do processo de privatizações. Alckmin privatizou um ou dois meses antes de sair do governo de São Paulo. Só não privatizou a Nossa Caixa porque o Serra não deixou.

Ontem, além de reforçar as críticas contra as privatizações do governo tucano, Garcia pôs mais lenha na fogueira ao afirmar que a redução de gastos anunciada por tucanos seria equivale a três anos de pagamento do Bolsa Família. Ele lembrou as declarações do economista Yoshiaki Nakano, um dos responsáveis pelo programa econômico de Alckmin, que causou polêmica ao sugerir redução dos gastos públicos de 3,4% do PIB. Nakano foi desautorizado por Alckmin.

¿ Posso até dizer: ¿Eu sou a favor do Bolsa Família¿. Mas se eu proponho um corte orçamentário desses, fica difícil ¿ disse.

Assim como Garcia, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, negou a que o PT faça terrorismo eleitoral ou adote a tática do medo, ao dizer que Alckmin vai retomar o processo de privatizações e mexer nos programas sociais. Tarso manteve o discurso de que existe o risco-Alckmin de retomar as privatizações.

Garcia informou ainda que o presidente Lula não deverá participar do debate na TV Gazeta na semana que vem.

¿Campanha quer discutir o futuro¿, diz Tarso

O PT considera que a tática de falar em privatizações do Banco do Brasil e da Petrobras num eventual governo Alckmin está sendo bem-sucedida. Assim, colocaram a campanha de Alckmin numa posição defensiva. Ao negar que o PT esteja empregando terrorismo eleitoral, Tarso disse que a campanha quer discutir o futuro.

¿ O que significa terrorismo? É justo ou não que se esclareça quem tem uma postura privatizante em relação ao futuro? ¿ perguntou Tarso.

Ele ficou irritado ao ser perguntado se o PT estava agindo como o PSDB em 2002, quando o candidato tucano à Presidência, José Serra, dizia que a eleição de Lula causaria problemas na economia:

¿ O que estamos discutindo é o seguinte: existe risco ou não de serem retomados os processos de privatizações? Na minha opinião, sim.

(*) Da CBN, especial para O GLOBO

www.oglobo.com.br/pais/eleicoes2006