Título: COLLOR VISITA O CONGRESSO 14 ANOS APÓS IMPEACHMENT
Autor: Isabel Braga e Roberto Stuckert
Fonte: O Globo, 14/10/2006, O País, p. 14

Senador eleito deverá ocupar apartamento funcional

BRASÍLIA. Depois do estilista Clodovil Hernandes, ontem foi a vez de o ex-presidente Fernando Collor movimentar o Congresso, em um dia vazio, sem sessões na Casa. Sorridente, mas sem parar para dar entrevistas, Collor visitou o plenário, comissões e o gabinete do senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO), um dos poucos presentes no Senado ontem. No trajeto pelos corredores da Casa, chegou a dar autógrafos e a posar para fotos com turistas. E caiu na gargalhada quando um dos fotógrafos que o seguia levou um tombo:

¿ Ah, meu Deus do céu! Quero ver vocês acompanhando as corridas ¿ disse o futuro senador, numa referência às famosas corridas matinais que fazia quando era presidente, sempre acompanhado diariamente por jornalistas.

¿Ele disse que veio para defender seu estado¿

Segundo o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, Collor telefonou para ele na noite de quinta-feira, perguntando se poderia conhecer os gabinetes. Como ex-presidente, ex-governador e ex-deputado, Collor tem prerrogativas que devem garantir um gabinete mais próximo ao plenário. Maia disse que não há nada definido e que Collor manifestou também interesse em ocupar um dos apartamentos funcionais.

Eleito para o Senado com mais de 500 mil votos, Collor, hoje com 57 anos, exibia um visual diferente de há 14 anos, quando a Casa o afastou do cargo: cabelos tingidos de preto ¿ durante a campanha estavam em tons acaju ¿ e uma tatuagem no punho esquerdo com o nome da atual mulher, a arquiteta Caroline Medeiros, de 29 anos.

Assim que soube de sua eleição para o Senado, Collor anunciou que em seu primeiro discurso daria sua versão do impeachment. No dia seguinte, no entanto, prometeu virar essa página e não criar atritos com parlamentares. E foi essa a impressão que causou no senador Siqueira Campos:

¿ Ele estava sereno, ponderado. Se alguém espera um Collor polêmico, vingativo, não deve encontrar. Ele disse que veio para defender seu estado, que tem o pior quadro de finanças públicas do país e está entre os de piores indicadores sociais. Não tocou em nenhum assunto polêmico e, sobre a eleição nacional, limitou-se a dizer que não vê um debate ideológico apaixonado, militantes nas ruas ¿ contou o senador tucano, que não será colega de Collor, pois não se reelegeu.

O senador Siqueira Campos contou que os dois também conversaram sobre a cláusula de barreira, que praticamente anula a atuação de partidos pequenos, como o PRTB pelo qual se elegeu. O tucano disse que Collor, sem referir-se à sua situação pessoal, disse que é preciso enfrentar esse debate e respeitar a vontade de eleitores de partidos como o PV, o PCdoB e o PPS.