Título: PAES ADERE A CABRAL E ABRE CRISE NO PSDB DO RIO
Autor: Bernardo Mello Franco e Cássio Bruno
Fonte: O Globo, 14/10/2006, O País, p. 15

Tucanos se dividem sobre aliança com peemedebista, que pede votos para Lula; Marcello vê `tiro pela culatra¿

RIO E MACAÉ (RJ). O candidato do PMDB ao governo do Rio, Sérgio Cabral, anunciou ontem o apoio do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), que ficou em quinto lugar no primeiro turno, com 5,3% dos votos válidos. A aliança ¿ que será oficializada em ato amanhã, às 11h ¿ abriu uma crise no ninho tucano, que tinha optado oficialmente pela neutralidade na disputa estadual. Para o ex-governador Marcello Alencar, presidente de honra do partido no Rio, a decisão pode prejudicar a candidatura à Presidência do tucano Geraldo Alckmin, já que Cabral apóia a reeleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ Isso é tudo o que não quero. O apoio ao Cabral pode ser um tiro pela culatra. É uma leviandade atrelar o partido a uma candidatura adversária do Alckmin ¿ criticou Marcello, que se diz reconciliado com Cabral depois de tê-lo acusado, há oito anos, de enriquecimento ilícito.

O deputado federal eleito Otavio Leite, ligado a Marcello, chamou de temerária a adesão de tucanos a Cabral.

¿ Não faz sentido dar impulso a um candidato que está aliado a Lula. Isso pode gerar uma confusão perigosa na cabeça do eleitor e dar mais votos a Lula no estado ¿ disse.

Segundo Paes, ¿99% do PSDB¿ vão apoiar Cabral no estado. O tucano admite que a aliança do peemedebista com Lula gera constrangimento em seu partido, mas diz que continuará em campanha pelo candidato tucano à Presidência.

¿ Vamos atrapalhar essa aliança (com Lula) e desviar votos do Cabral para o Alckmin ¿ disse o deputado.

Em setembro, Paes associou Cabral a sanguessugas

Eleito deputado estadual com a maior votação do Rio, o tucano José Camilo Zito, cuja adesão também foi anunciada por Cabral, disse que consultaria a direção do partido antes de confirmar a aliança. O presidente regional do PSDB, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, reafirmou a neutralidade e não quis comentar a adesão de tucanos à campanha do peemedebista.

No primeiro turno, Paes foi um dos críticos mais duros de Cabral. Em entrevista ao GLOBO publicada em 7 de setembro, o deputado afirmou que ¿sanguessugas, mensaleiros e garotinhos¿ apoiavam a candidatura do novo aliado, que chamou de ¿síntese dessa entrega da máquina pública como forma de amealhar espaços de poder¿.

Na semana passada, Cabral selou alianças com Marcelo Crivella (PRB) e Vladimir Palmeira (PT), que ficaram em terceiro e quarto lugar na corrida ao Palácio Guanabara. Ontem, em ato de campanha em Macaé, no Norte Fluminense, o peemedebista disse que a união com os tucanos ¿será fundamental no segundo turno¿:

¿ Acho que houve uma liberação do partido (PSDB). Serão parcerias fundamentais para eu vencer a eleição.

Cabral pediu votos em Macaé ao lado de outros tucanos: o prefeito Riverton Mussi e o deputado federal eleito Silvio Lopes. O peemedebista discursou para cabos eleitorais que balançavam bandeiras com o nome de Alckmin.

¿ É uma opção do Silvio Lopes. A minha é Lula ¿ disse o candidato, que prometeu, se eleito, abrir uma Delegacia Legal e um campus da Universidade Estadual do Norte Fluminense em Macaé.

Hoje, Cabral participa de ato com a vereadora carioca Aspásia Camargo, do PV, que abandonou a aliança do partido com Denise Frossard, do PPS.