Título: EMPRESA BRASILEIRA CONTARÁ OS VOTOS NO EQUADOR
Autor: Mariana Timóteo da Costa
Fonte: O Globo, 14/10/2006, O Mundo, p. 39

Última pesquisa mantém liderança do nacionalista Correa e aponta índice de indecisão de 32% do eleitorado

QUITO. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Equador contratou, por US$5,2 milhões, um consórcio brasileiro chamado E-Vote para agilizar a apuração dos votos e evitar fraudes nas eleições gerais de amanhã. Como no Equador a votação não é eletrônica, e os mais de nove milhões de eleitores terão que preencher nada menos do que cinco cédulas, a empresa desenvolve um sistema chamado Trep ¿ Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares.

Com uma equipe de três mil telefonistas que colocam os dados num computador e a ajuda de um software desenvolvido pela empresa brasileira, espera-se um resultado rápido.

¿ É uma apuração que poderia durar mais de dois meses, mas esperamos que dure cerca de uma hora e meia, uma vez que os dados sejam recebidos por nós ¿ explica o diretor da E-Vote, Santiago Murray, que foi durante anos observador da OEA e coordenou as últimas eleições presidenciais no Haiti pela organização.

Para chefe da missão da OEA, sistema inibe fraude

O que pode parecer estranho num primeiro momento, tem muita utilidade, segundo o chefe da missão de observadores da OEA no Equador, o ex-chanceler argentino Rafael Bielsa, que diz confiar plenamente no sistema brasileiro. Para Bielsa, além de se conhecer o resultado mais rapidamente, o processo evita fraudes porque os resultados são transmitidos assim que saem da mesa. Também elimina, num primeiro momento, o transporte de urnas de regiões remotas do país aos centros oficiais de apuração do TSE.

O sistema foi alvo de críticas por parte do candidato Rafael Correa, favorito para chegar em primeiro lugar amanhã. Ele acusou a empresa de telefonia contratada, a American Call Center, em Guayaquil, de ter ligações com o Partido Social Cristão, conservador, de Cynthia Viteri. A empresa nega as acusações e apresentou um documento em que todos os seus funcionários declaram, por escrito, não ter qualquer filiação política.

As pesquisas de opinião continuam apontando um segundo turno entre o nacionalista de esquerda Correa, da Aliança País, e o populista de direita Álvaro Noboa, do Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian). Mas, como o número de indecisos ainda é alto, superior a 30%, o candidato de centro-esquerda León Roldós ainda tem, segundo analistas, chances de disputar o segundo turno com Rafael Correa.

A lei seca entrou em vigor ao meio-dia de ontem e irá até o meio-dia de segunda-feira. Até domingo, ao meio-dia, os equatorianos poderão renovar suas carteiras de identidade, o documento necessário para votar. Vários centros foram abertos no país e as filas permaneceram enormes durante todo dia de ontem.

Correa fala em moratória e revisão de contratos

Ontem, os candidatos encerraram suas campanhas com os olhos nas últimas pesquisas de intenção de voto divulgadas pela imprensa. Correa continua na frente com 30%, seguido de Noboa, que registrou 23%, ultrapassando Roldós, que ficou com 19%. No entanto, a enquete eleitoral da empresa Informe Confidencial indicou também um alto índice de indecisão: nada menos que 32% do eleitorado ainda não se decidiu em quem votar, o que dá chances a todos os candidatos e aponta para um segundo turno em 26 de novembro. ¿Num país de voto obrigatório, isso significa que podem ocorrer muitos imprevistos no dia da eleição¿, conclui o relatório da Informe Confidencial.

Reforçando sua posição nacionalista, Correa encerrou sua campanha rejeitando a presença militar americana, ameaçando com uma moratória da dívida externa ¿ que tachou de ilegítima ¿ e anunciando a revisão de contratos petrolíferos.

¿ Muitos contratos têm sido um atraso para o país ¿ atacou.