Título: BAN KI-MOON É ACLAMADO NA ONU
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Fonte: O Globo, 14/10/2006, O Mundo, p. 38

Sede da entidade pára e recebe o chanceler sul-coreano, sucessor de Kofi Annan

NOVA YORK. ¿Os repórteres me chamavam de enguia escorregadia, mas gostavam de trabalhar comigo¿, disse com elegância Ban Ki-moon na sua primeira entrevista como secretário-geral eleito da ONU, pouco depois de ser aclamado pela Assembléia Geral da entidade.

O atual ministro do Exterior da Coréia do Sul só assumirá como oitavo secretário-geral da sexagenária organização em 31 de dezembro, quando se encerra o mandato de Kofi Annan, mas na prática os tempos já começaram a mudar.

Na sua primeira subida à tribuna do plenário da Assembléia Geral, Ban abordou todas as questões da atualidade mas, fazendo jus ao seu apelido, não tomou nenhuma posição sobre nenhum dos conflitos que dividem o mundo. Deu opinião sobre a Coréia do Norte, mas a declaração só foi feita, na entrevista, depois de os membros do Conselho de Segurança já terem chegado a um acordo sobre a resolução que prevê duras sanções ao país.

¿ Este teste nuclear é fundamentalmente diferente de um teste de míssil. É necessário que a comunidade internacional mande uma mensagem unificada e clara para fazer com que a Coréia do Norte não caia na tentação de se engajar em alguma atividade negativa que agrave a situação ¿ disse.

Ban Ki-moon, de 61 anos, comprovou que imprimirá à instituição um estilo bem diferente do dos últimos dez anos sob a liderança de Kofi Annan, que criou polêmica. Denunciou os países que violaram as leis internacionais e, para o bem ou para o mal, levou a ONU para o centro da política internacional.

¿ Não são as palavras que vão dar a medida do sucesso da ONU, mas seu trabalho ¿ disse Ban, no seu discurso.

Numa demonstração de que a transição do poder já começou, a sede da ONU interrompeu suas atividades para saudar o recém-eleito secretário-geral: diplomatas, funcionários, jornalistas e convidados lotaram o plenário da Assembléia Geral, como só acontece nos grandes momentos da organização. Foi Annan quem quebrou a formalidade da cerimônia de eleição do seu sucessor, ao dizer que ele precisará de força e coragem. Mas sugeriu que mantenha o bom-humor.

Visivelmente emocionado, Ban listou os desafios que a ONU tem pela frente para atingir as Metas do Milênio, expandir as operações de paz, enfrentar o terrorismo, a proliferação das armas de destruição em massa, a Aids, a degradação do meio ambiente e garantir os direitos humanos.