Título: ONU: EUA RETIRAM MENÇÃO A AÇÃO MILITAR
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Fonte: O Globo, 14/10/2006, O Mundo, p. 38

Conselho de Segurança tenta votar hoje sanções à Coréia do Norte. Russos dizem que país está pronto para negociar

NAÇÕES UNIDAS. O Conselho de Segurança da ONU planeja votar hoje uma resolução impondo sanções econômicas e armamentistas contra a Coréia do Norte ¿ que no início da semana anunciou um teste nuclear, desafiando a comunidade internacional. O projeto de resolução havia sido alcançado após os Estados Unidos eliminarem menções explícitas ao uso da força, pois China e Rússia rejeitavam ¿medidas extremas¿. Mas, à noite, os dois países levantaram novas preocupações, que diplomatas tentavam superar.

O novo rascunho redefine os limites de inspeção da carga que entrar e sair da Coréia do Norte e elimina um embargo a armas convencionais, que aparecia numa versão anterior, limitando-o à proibição a armas de grande porte, sistemas militares e armamento de destruição em massa. A venda de artigos de luxo também deve ser suspensa.

A medida, redigida pelos EUA e revisada três vezes durante a semana, pede que os países evitem a venda ou transferência de material relacionado aos programas nuclear, de mísseis balísticos e de armas não convencionais a norte-coreanos. Ela também congelaria fundos no exterior de pessoas ou empresas associadas a esses programas. O texto procura impedir Pyongyang de exportar tais armas, para evitar o risco de comércio com grupos terroristas ou Estados hostis.

¿ Vamos trabalhar à noite numa questão técnica sobre o que cobre e como definimos os materiais ligados a armas nucleares, biológicas e químicas e a mísseis balísticos ¿ disse o embaixador americano na ONU, John R. Bolton.

Fonte confirma à CNN que teste foi nuclear

À tarde, Bolton dissera que o texto ainda podia sofrer alterações. Wang Guangya, o embaixador chinês, observou que Pequim tinha dificuldades com a inspeção de cargas. Em Moscou, o ministro do Exterior, Sergei Lavrov, rejeitara o uso da força:

¿ Temos com a China uma posição comum na necessidade de uma abordagem equilibrada, que não seja emocional nem aplique sanções extremas.

Num esforço para resolver a crise, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, vai visitar China, Japão e Coréia do Sul na próxima semana. É possível que ela estenda a viagem à Rússia, segundo fontes.

Bolton pretendia manter a votação hoje e destacava o fato de o conselho chegar a acordo sobre um projeto de resolução, na mesma semana em que o teste norte-coreano foi realizado, como ¿um sinal da determinação¿.

A Coréia do Norte, por sua vez, culpou os EUA pela condenação internacional que sofreu. ¿A política hostil em relação à Coréia do Norte foi além do limite da tolerância, e agora prevalece na península uma perigosa atmosfera de confronto¿, declarou a agência estatal KCNA. Enquanto o conselho negociava, o vice-ministro do Exterior da Rússia, Alexander Alexyev, disse, em Pyongyang, que a Coréia do Norte está pronta a retornar à mesa de negociações para discutir seu programa nuclear.

À noite, uma fonte do governo americano disse à TV CNN que havia provas preliminares de radioatividade num campo de teste norte-coreano ¿ o que confirmaria o teste nuclear no dia 9. A afirmação contrastou com declarações dadas por outras fontes, durante o dia, de que amostras do ar coletado na região não continham traços radioativos.

Enquanto isso, o Japão pressiona por uma forte resposta. Na manhã de ontem, o Gabinete japonês aprovou formalmente sanções contra a Coréia do Norte, suspendendo importações e proibindo navios norte-coreanos de atracar em seus portos.

Em Washington, o presidente George W. Bush acrescentou a Coréia do Norte a uma lei, assinada ontem, destinada a combater ambições nucleares de Irã e Síria. A lei de não-proliferação permite ao presidente impor sanções a qualquer estrangeiro que transfira bens, serviços ou tecnologias que possam ajudar na fabricação de armas de destruição em massa.