Título: CORTE DE GASTOS DIVIDE OS CANDIDATOS
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 15/10/2006, O País, p. 3

Presidente Lula diz que pode crescer sem reduzir despesas; Alckmin discorda

BRASÍLIA. A discussão sobre corte de gastos ganhou força esta semana e esquentou o embate político entre petistas e tucanos. O que está em questão é o tamanho e a função que o Estado deve ter na sociedade. As propostas dos dois candidatos à Presidência ¿ Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) ¿ são divergentes, embora não tenham sido totalmente detalhadas até o momento.

O PT defende que a máquina pública tenha estrutura reforçada e capacitada para regular setores que estão nas mãos da iniciativa privada, como o energético e o das telecomunicações, bem como assegurar políticas de distribuição de renda. O presidente Lula, em entrevista ao GLOBO, disse que o país tem condições de crescer sem precisar cortar gastos. Na sexta-feira, o coordenador de sua campanha, Marco Aurélio Garcia, contradisse o presidente e disse que ¿é evidente¿ que é preciso cortar gastos.

Nos três primeiros anos do governo PT, foram criadas 131 mil vagas no serviço público federal, sendo 81 mil no Executivo. O crescimento também foi sensível nos cargos comissionados, aqueles de livre indicação, ocupados no fim do ano passado por 19.925 trabalhadores: são 1.551 cargos comissionados a mais que no fim do governo Fernando Henrique. Ou 8,4% a mais que em 2002.

¿ No governo anterior havia grande inchaço por causa da terceirização. Nós acabamos com isso, porque a terceirização é um processo perverso que desqualifica o Estado ¿ diz Garcia.

O grande número de ministérios ¿ 33 ¿ demonstra esse posicionamento. O governo Lula deu a algumas secretarias o status de ministério, para priorizar assuntos como igualdade racial e direitos da mulher.

¿ São dois programas diferentes: um do Estado mínimo, coisa bem pequena, uma sociedade do mercado. Nosso programa é mais moderno, onde o Estado tem função indutora e é bem aparelhado. Se você apontar quais ministérios podem ser cortados, nós teremos sensibilidade para analisar ¿ diz Garcia.

O PSDB defende um Estado com atuação na transferência de renda, mas prega redução da máquina, com corte de gastos. Os tucanos enxergam no aumento de pessoal patrocinado pelo atual governo um aparelhamento negativo da máquina.

¿ É questão de organizar melhor as coisas e ter metodologia de gestão. Nos últimos 12 anos, em São Paulo, tivemos isso, com responsabilidade administrativa ¿ diz o coordenador do programa de governo de Alckmin, João Carlos Meirelles.

Para ele, o mais importante é racionalizar gastos. Meirelles diz que uma das promessas de Alckmin é reduzir o número de ministérios:

¿ No começo do governo Mário Covas (em São Paulo) criamos o controle de despesa com energia elétrica e telefone. Pegue as contas dos ministérios e veja a brutalidade dos gastos com telefone. A soma alcança o bilhão de reais. (Henrique Gomes Batista e Raquel Miura)