Título: CLIMA E CÂMBIO FORAM GRANDES VILÕES
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 15/10/2006, O País, p. 8

Produtores culpam presidente por não intervir para minimizar efeitos da crise

BRASÍLIA. A crise da agricultura, que responde por parte do mau desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno nas regiões Sul e Centro-Oeste, tem dois vilões: o clima, que afetou a safra de várias culturas em 2005 e este ano, e a valorização do real frente ao dólar. O resultado foi a forte perda de rentabilidade no setor, o que retirou do bolso dos agricultores, especialmente no Sul, R$17 bilhões na última safra. A insatisfação com Lula se deve a dois fatores: a negativa em intervir no câmbio e a resposta lenta aos problemas emergenciais, mesmo com a liberação de bilhões de reais.

A crise ¿ sem precedentes, por combinar diversos fatores ¿ teve como ponto alto a saída do ministro Roberto Rodrigues, há cerca de dois meses. Tido como um dos mais influentes assistentes de Lula, Rodrigues deixou o governo decepcionado com a demora na liberação de recursos e a dificuldade para convencer o Ministério da Fazenda a reduzir impostos do setor rural, para diminuir custos. Contudo, conseguiu a prorrogação de nada menos que R$20 bilhões em dívidas dos agricultores nos últimos dois anos.

Além do clima, em 2005, houve superoferta de grãos ¿ particularmente soja, arroz e milho ¿ no mercado internacional. Isso fez com que os preços caíssem a ponto de os agricultores perderem rentabilidade. Outro fator é a valorização do real frente ao dólar, que causou estragos principalmente nas relações do setor com fornecedores. Ficou difícil pagar pelos defensivos agrícolas adquiridos lá atrás.

Ministro estima perda em 19 milhões de toneladas

A questão cambial atingiu a agricultura da seguinte maneira: os agricultores importaram insumos e fertilizantes por R$3,15 o dólar em 2004. No ano seguinte, ao venderem a safra, a cotação estava em R$2,50, causando perdas aos produtores. A situação se mantém em 2006, com o dólar em torno de R$2,15.

O ministro da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto, afirmou que, somente na safra 2004/05, a perda estimada foi de 19 milhões de toneladas.

¿ A seca no Sul e no Centro-Oeste, a queda do valor relativo dos produtos no mercado mundial e a valorização do real frente ao dólar levaram a uma grande perda de renda na agricultura ¿ admitiu o ministro.

Ele lembrou que, na safra 2005/06, esses fatores se repetiram, em escala menor.

¿ Mas o governo prorrogou dívidas de custeio e investimento e apoiou a comercialização ¿ defendeu Guedes.