Título: PARA DESPISTAR ELEITORES, TÍTULOS DE DOUTOR E PASTOR
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 15/10/2006, O País, p. 16

Alguns investigados mudaram até de domicílio eleitoral

BRASÍLIA. Também investigado por envolvimento com a máfia dos sanguessugas, o deputado Reginaldo Germano (PP-BA), nome com o qual sempre foi conhecido em Brasília, mudou para Pastor Reginaldo. A alteração não adiantou coisa alguma. O pastor foi duramente castigado pelas urnas. Em 2002, ele recebeu 65.607 votos e, agora, apenas 2.090 votos. Ele foi o 117 entre os 216 candidatos a deputados federais na Bahia.

Outros três também decidiram incluir doutor nos nomes para escapar da associação com o esquema dos sanguessugas. Amaury Gasques (PL-SP) virou Dr. Amaury Gasques. Ele recebeu 14.621 votos, quatro mil a menos que na eleição anterior. Votação insuficiente para garantir sua reeleição. Benedito Dias (PP-AP) também inseriu doutor no nome que foi para a urna eletrônica, mas não deu certo: caiu de 13.345 para 5.788 votos.

O deputado Vanderlei Assis (PP-SP) mudou não só de nome como de domicílio eleitoral. Ele foi um dos parlamentares que se elegeram pelo Prona em 2002 às custas da votação de Enéas. Ele obteve 275 votos. Ele alterou seu nome para Dr. Vanderlei Assis e mudou seu domicílio eleitoral para o Rio, mas a candidatura naufragou, apesar de ter melhorado a péssima performance da eleição passada. Dessa vez, o deputado chegou a 2.250 votos. Ele foi o 281 mais votado, entre 703 candidatos.

Bancada evangélica vai perder força no Congresso

Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) revela que a bancada evangélica, que se constituiu nos últimos anos num dos blocos mais fortes do Congresso, irá perder força na próxima legislatura. Entre os que não se reelegeram e não se candidataram à reeleição, 16 foram citados pela CPI dos Sanguessugas.

Os evangélicos perderam seu atual líder, o deputado Adelor Vieira (PMDB-SC), coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, que não se reelegeu. Com quase 80 deputados, o número de evangélicos na próxima legislatura, segundo o Diap, será de apenas 33 parlamentares, assim divididos: 16 reeleitos, 13 deputados novos e quatro senadores que têm mandato até 2011.

O sucesso dos evangélicos nas legislaturas passadas deveu-se muito ao desempenho de bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus. Mas seus líderes na Câmara foram atingidos pelos recentes escândalos políticos.

O principal deles foi o ex-bispo Rodrigues (PL-RJ), que, expulso da igreja, mudou seu nome para Carlos Rodrigues (PL-RJ). Envolvido no esquema do mensalão, Rodrigues renunciou ao seu mandato para não responder a processo por quebra de decoro parlamentar. Assim preservou os seus direitos políticos, que poderiam ser cassados por oito anos, mas continuará sem mandato.