Título: No mercado de trabalho, a informalidade domina
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 15/10/2006, Economia, p. 35

Cerca de 12.200 pessoas atuam no Santuário, nos hotéis e comércio, mas há 150 fábricas de fundo de quintal

APARECIDA. Pelo menos 12.200 pessoas trabalham diretamente ligadas ao turismo da fé em Aparecida, entre funcionários do Santuário Nacional, hotéis, lojas e ambulantes cadastrados. A maior parte, 3 mil, está ligada ao setor de hotelaria e alimentação (existem 86 restaurantes no município). Mas apesar do número alto de empregados registrados, a informalidade é muito alta na cidade, já que segundo o prefeito José Luiz Rodrigues, praticamente toda a população (37 mil habitantes) sobrevive da devoção dos fiéis. Na prefeitura, há 1.800 empregados.

¿ Para tentar conter o comércio informal, cadastramos quatro mil ambulantes que trabalham ao redor do Santuário Nacional. Eles pagam uma taxa de R$50 mensais para poder vender seus produtos ¿ afirmou o prefeito.

A cidade conta apenas com uma indústria, a Madepar, que produz papel e celulose. As fábricas de Aparecida, na verdade são, em sua maioria, empresas de fundo de quintal que empregam integrantes de uma mesma família.

¿ A cidade tem cerca de 150 fabriquetas que empregam, em média, cinco pessoas ¿ disse Ângelo Reginaldo Leite, secretário de Indústria e Comércio e presidente da Associação Comercial e Industrial.

Fábrica produz mil imagens de Nossa Senhora por dia

Bem no centro da cidade funciona uma fábrica de imagens de Nossa Senhora Aparecida que traduz bem este cenário. Com uma linha de produção capaz de transformar 200 toneladas de gesso em mil imagens por dia, José Bonifácio da Silva e sua família vivem há 13 anos da venda de imagens santas. Ele conta que trabalhou por 20 anos na extinta fábrica de imagens do Santuário Nacional, quando decidiu começar um negócio por conta própria, ao lado da mulher e de um funcionário.

Na época, a produção não ultrapassava a marca de 10 imagens por dia. Hoje, a fábrica de artigos religiosos emprega 14 pessoas, além de três trabalhadores temporários no mês de outubro. Os funcionários ganham o piso de R$350 e muitos sustentam a família com o trabalho na fábrica.

¿ Este é meu primeiro emprego de verdade. Ganho um salário, que me ajuda nas contas de casa e nos gastos com meu filho ¿ disse Joyce Vieira, uma das responsáveis pela finalização da pintura das imagens religiosas.

Silva conta que das cerca de mil peças que produz por dia, 70% são vendidas para os lojistas de Aparecida e o restante para outros centros religiosos do país, como Bom Jesus da Lapa, na Bahia.

¿ Fazemos sete modelos de Nossa Senhora, de 10 centímetros a 70 centímetros. A mais vendida é a menor, que sai da fábrica por R$0,70 e é vendida por R$2 nas lojas da cidade.