Título: OPOSIÇÃO PEDE AO TSE AMPLIAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
Autor: Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 17/10/2006, O País, p. 5

PSDB, PFL e PPS denunciam tentativa de blindagem de Freud Godoy e querem convocar Thomaz Bastos

BRASÍLIA. Num novo round da briga entre governo e oposição, os presidentes do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do PPS, deputado Roberto Freire (PE), anunciaram ontem que pedirão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a ampliação da investigação sobre o dossiê contra os tucanos. Querem a convocação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para que explique seu suposto envolvimento, assim como da cúpula da Polícia Federal, numa operação para blindar Freud Godoy, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Freud foi citado nos dois primeiros depoimentos de Gedimar Passos, um dos petistas presos com R$1,7 milhão e que mudou sua versão, como um dos envolvidos no escândalo da compra do dossiê.

¿ Queremos que todos os envolvidos nesta operação-abafa sejam convocados, desde o delegado afastado até o ministro da Justiça, como articulador desta artimanha para blindar do senhor Freud ¿ afirmou Tasso.

A oposição agiu motivada por uma reportagem publicada no fim de semana pela revista ¿Veja¿, que denuncia uma operação para inocentar Freud Godoy do envolvimento na compra do dossiê. Segundo a revista, três delegados contaram que Freud e José Carlos Espinoza, um ex-segurança e amigo de Lula, teriam tido um encontro reservado com Gedimar na sede da PF em São Paulo, antes de este mudar seu depoimento.

Ministro teria orientado Freud

De acordo com a reportagem, o ministro da Justiça teria orientado Freud quando o escândalo veio à tona.

Os três presidentes de partido oposicionistas podem ganhar hoje o reforço do peemedebista Michel Temer que, segundo Tasso, não chegou a tempo da reunião de ontem. Eles pretendem fazer um protesto hoje junto ao superintendente da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para assegurar a isenção do órgão na investigação do escândalo do dossiê.

¿ Não vamos admitir que a Polícia Federal seja transformada em polícia política do governo Lula. Vamos reagir no Parlamento com todas as armas legítimas de que dispomos para que ela não siga esse caminho fascista, permitindo o afastamento de delegados independentes e o uso de suas instalações de forma irregular ¿ afirmou Tasso.

O senador confirmou a decisão do grupo de pedir à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o acompanhamento das investigações do caso do dossiê, para inibir possíveis perseguições internas na PF e ajudar a dar explicações à sociedade sobre a origem do dinheiro apreendido.

¿ Não existe mais credibilidade para que o Ministério da Justiça conduza sozinho as investigações. Está cada vez mais clara a participação do governo para encobrir os responsáveis ¿ disse Tasso, traçando um paralelo do episódio com o da quebra do sigilo do caseiro Francenildo da Costa Santos, em que a força do Estado teria sido usada contra um cidadão comum que havia desmentido o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Se ficar comprovado o crime de responsabilidade do ministro da Justiça, Tasso considera inevitável que o Ministério Público assuma o comando da investigação.

Surpreendidos pela repercussão antecipada dos governistas, que acusaram a oposição de estar tentando criar um factóide para desestabilizar as instituições públicas e o processo democrático, Tasso, Freire e Bornhausen reagiram no mesmo tom.

¿ Aquela montanha de dinheiro que eles não queriam que fotografassem não é factóide. Isso é querer fazer todo o Congresso Nacional e o país de imbecis ¿ rebateu Tasso.

¿ Não foi a oposição que foi presa com R$1,7 milhão, dinheiro cuja origem não foi esclarecida até hoje, embora os envolvidos sejam um segurança, um churrasqueiro e até o presidente do partido de Lula. O que a oposição tem com isso? O factóide é deles ¿ emendou Freire.

Freire denuncia megamensalão

Numa outra frente, os três presidentes de partido anunciaram que vão protocolar no TSE uma ação contra Lula por abuso de poder econômico. Eles classificaram como megamensalão o apoio anunciado pelo governador reeleito do Mato Grosso, Blairo Maggi, ao presidente Lula em troca da liberação de R$1 bilhão para o estado e mais R$2 bilhões para financiar o agronegócio. Freire disse que está aguardando que o governador se desfilie do PPS até sexta-feira.

¿ Blairo já não pertence mais aos quadros do PPS, pois participou de um episódio que denigre a política brasileira. Houve uma clara troca de recursos por um voto, que não é de um cidadão comum, mas de um governador de Estado. Isso é abuso de poder econômico, é um grande mensalão com um megamensaleiro ¿ acusou Freire.

A oposição também reagiu às acusações do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, de que o ex-governador Geraldo Alckmin teria sido complacente com a ação de facções criminosas em São Paulo e que isso seria tão grave quanto o caso do dossiê.

¿ A facção teve um grande alívio, mas foi uma mudança de legislação proposta pelo governo Lula (que alterou o Regime Disciplinar Diferenciado). Não sei se até o fim da eleição não vamos ter um novo ataque ¿ ironizou Freire.

Para o coordenador da campanha de Alckmin, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), Tarso disse besteira.

¿ Como fala muito e é prolixo, sua tendência é a de falar besteira. Em São Paulo, estamos enfrentando o crime nas ruas como se viu. Obscura mesmo é a ação do governo com os criminosos do PT. Tanto que foi a campanha do PT que introduziu a agenda do crime nesta eleição. O objetivo do ministro é justamente o de tentar acabar com o debate ético, que é o ponto fraco de Lula e do PT. O resto é tapar o sol com a peneira.