Título: EM DEFESA DO AJUSTE GRADUAL
Autor: Maria Lima e Raquel Miura
Fonte: O Globo, 17/10/2006, O País, p. 8

Ministros defendem cortes de longo prazo nos gastos públicos

SÃO PAULO. Os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Fazenda, Guido Mantega, voltaram a defender ontem um corte gradual nos gastos correntes do governo.

¿ Somos contra choques fiscal, monetário ou cambial, que apenas criam condições econômicas artificiais ¿ afirmou Mantega, depois de participar de um encontro internacional de Bolsas de Valores, em São Paulo.

Para os ministros, a solução para a redução dos gastos passa por um ajuste de longo prazo. Já se discute a adoção de medidas que permitam que as despesas com pessoal e de custeio da máquina administrativa, nos três Poderes, cresçam menos que a expansão do PIB.

¿ É perfeitamente possível que as contas do setor público registrem um déficit nominal zero ao longo dos próximos quatro anos ¿ disse Mantega, observando que as premissas para isso, além do redutor de 0,1% nas despesas anuais do governo, são a continuidade da queda nas taxas de juros, a manutenção do superávit primário de 4,25% do PIB, e a economia crescendo a taxas em torno de 5%.

¿ Isso é perfeitamente possível e já está sendo feito ¿ arrematou Bernardo, que fez uma palestra sobre controle de gastos públicos na Apimec, associação que reúne analistas e investidores do mercado de capitais.

Bernardo disse que o gradualismo já está embutido na proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), enviada ao Congresso, que prevê uma redução anual nos gastos da ordem de 0,1% do PIB.

O ministro do Planejamento disse que é ¿inexequível¿ a proposta de Yoshiaki Nakano ¿ um dos responsáveis pelo programa econômico do candidato Geraldo Alckmin, que propôs a redução dos gastos correntes da ordem de 3,4% do PIB (cerca de R$70 bilhões). Excluindo-se as despesas previstas pela Constituição das receitas projetadas para 2007, calculou Bernardo, sobram cerca de R$91 bilhões, valor que serve para cobrir as chamadas despesas descriminatórias, destinadas à saúde, à educação e ao Bolsa Família.

¿ Para fazer um corte nessa magnitude, o governo teria que paralisar a maior parte de suas atividades sociais e até extinguir ministérios ¿ afirmou Paulo Bernardo.