Título: INDÚSTRIA DESTINA PARCELA MENOR À EXPORTAÇÃO
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 17/10/2006, Economia, p. 21

Produção exportada recua para 24% do total, o menor patamar desde 2004, mostra Firjan

O dólar baixo está corroendo a competitividade das exportações de manufaturados brasileiros e, pelo terceiro trimestre seguido, a indústria nacional reduziu a parcela de sua produção destinada ao mercado externo. De acordo com cálculos da Federação da Indústria do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), entre junho de 2005 e junho de 2006, o setor industrial direcionou 24% de sua produção às vendas externas. Nos 12 meses encerrados em março de 2006, essa parcela era maior, de 24,8%.

Com o recuo, o percentual destinado a exportações ficou no menor nível desde 2004. Segundo o Índice Firjan de Produção Exportada, os setores mais afetados foram metalurgia básica, produtos alimentícios e produtos de madeira.

¿ O câmbio já exerce pressão em alguns setores. No caso dos produtos de madeiras, recuaram a produção total da indústria e também as exportações, o que mostra claramente o efeito do dólar baixo ¿ explica Luciana de Sá, chefe da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Firjan.

Em março, as exportações de produtos de madeira chegavam a 70,5% do total. Em junho, diminuíram para 68,4%.

Na metalurgia básica e nos produtos alimentícios, a produção total cresceu, mas as vendas externas diminuíram. Segundo Luciana de Sá, isso indica que, além do efeito do câmbio, a queda das exportações pode refletir um ligeiro aquecimento na demanda interna.

Para a economista Cecília Hoff, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, as exportações brasileiras, sobretudo de manufaturados, de fato estão perdendo fôlego por causa do câmbio. Segundo a economista, as vendas do Brasil estão crescendo a um ritmo menor do que a demanda externa.

Greves da Receita e Anvisa afetaram segundo trimestre

Mas Cecília faz uma ressalva: no segundo trimestre de 2006, período no qual a Firjan constatou uma maior queda na produção exportada, as greves da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) prejudicaram as exportações brasileiras.

¿ É preciso aguardar o indicador do terceiro trimestre para se ter uma idéia mais clara dessa tendência ¿ diz.

O dólar baixo prejudica mais os produtos manufaturados porque, destaca Cecília, os empresários, neste caso, não têm como reajustar seus preços por causa da concorrência. No caso dos semimanufaturados, a queda do dólar foi compensada por um aumento de preços internacionais, principalmente nos combustíveis e metais.

Os combustíveis, aliás, explicam o bom desempenho do Estado do Rio na produção exportada. Diferentemente do que ocorreu na média nacional, na produção industrial fluminense a parcela destinada à exportação manteve-se estável nos últimos trimestres, em 15,7%. No setor que engloba o refino de petróleo, a produção exportada cresceu de 19,2% para 20,4% entre março e junho.

E o setor automobilístico, que tem a maior inserção externa entre os principais segmentos da indústria fluminense, viu a parcela de sua produção destinada a exportações crescer ainda mais, de 38,7% para 41,8%, no segundo trimestre deste ano.