Título: IMPRENSA VÊ REGIME EM COLAPSO POR TRÁS DA CRISE
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 17/10/2006, O Mundo, p. 26

Conservadores e progressistas temem que Japão e Coréia do Sul busquem poder nuclear

SEUL. Os três maiores jornais da Coréia do Sul são conservadores e têm 60% dos leitores diários de jornais no país: os formadores de opinião ou algo como 4,8 milhões de pessoas, diz Hong Ki-soo, produtor da agência de notícias Reuters e diretor do Clube de Correspondentes Estrangeiros de Seul. Por sua vez, a rede de TV aberta de maior penetração no país é a SBS (Seoul Broadcasting System), igualmente conservadora. E para os conservadores, a Coréia do Norte à beira de um colapso é a maior culpada pela crise atual vivida pela Península Coreana.

Em outras palavras, se boa parte dos sul-coreanos encara a crise atual com certa resignação e vêem a Coréia do Norte como um agonizante regime em busca de atenção, este comportamento pode ser creditado, em parte, à mídia conservadora, cuja preocupação, apesar de tentar manter a neutralidade, é mostrar a decadência do governo de Pyongyang e suas discutíveis estratégias para chamar a atenção da comunidade internacional.

¿ Para os progressistas, o grande culpado pelo isolamento cada vez maior da Coréia do Norte e, como conseqüência, pela crise atual, são os EUA, que ajudaram a dividir as Coréias. E pregam a reaproximação. Mas os conservadores, os mais raivosos, têm uma grande voz na mídia e influenciam a opinião pública ao mostrar o regime de Kim Jong-il como um governo desesperado. Eles estão testando a bomba porque mal conseguem dar de comer à população e querem mostrar que o sistema não está ruindo, mas tem poder, inclusive, para fazer uma arma nuclear ¿ diz ele.

Mas os progressistas, que também dominam grandes redes, como a estatal KBS ou a MBC, conseguem convencer o público de que o racha é uma hipótese arriscada. Em todo caso, uma preocupação parece alinhar a mídia sul-coreana: a ameaça de que a bomba norte-coreana faça o Japão brigar pelo direito de ter outra e, por fim, a própria Coréia do Sul entre na corrida armamentista. (G.S.)