Título: Lula e Alckmin buscam votos no Rio
Autor: Valeria Maniero e Cassio Bruno e Maia Menezes
Fonte: O Globo, 18/10/2006, O País, p. 3

RODRIGUES ALVES FOI UM PRESIDENTE QUE TRABALHOU PELO RIO. QUERO ME INSPIRAR NELE¿

Depois de receber o apoio do ex-governador Anthony Garotinho e ser alvo de críticas do prefeito Cesar Maia (PFL) e de sua aliada Denise Frossard (PPS), o candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) fez caminhada, ontem à tarde, no calçadão de Bangu, ao lado do prefeito e de líderes políticos do Rio. O tucano cumprimentou eleitores, deu autógrafos, beijou crianças e ouviu até pedidos de emprego no local, escolhido a dedo pelo prefeito, que instalou ali um sistema de gotejamento para aliviar o calor. Para conter o tumulto causado por cabos eleitorais e curiosos, um locutor gritava com megafone:

¿ Vamos abrir para o homem andar! Sem empurra-empurra!

No palanque improvisado num carro de som, Alckmin, que teve 28,86% dos votos no estado, contra 49,18% do petista Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu ser o presidente do Rio, comparando-se a um antigo governante:

¿ Rodrigues Alves foi um dos presidentes que mais trabalharam pelo Rio. Quero me inspirar nele ¿ disse o candidato, que assumiu o compromisso de investir em segurança pública e extirpar a ¿praga da corrupção¿.

A candidata ao governo do estado pelo PPS, Denise Frossard, que chegou a defender o voto nulo para presidente por causa do apoio de Anthony Garotinho a Alckmin ¿ e depois voltou atrás ¿, não participou da caminhada, o primeiro ato no Rio após a polêmica adesão. O tucano chegou a ficar irritado com a insistência dos repórteres sobre a ausência da candidata:

¿ Eu faço campanha para presidente da República. E, aonde eu vou, levo o nome de Denise Frossard. É que, infelizmente, tem gente que gosta de fofoca ¿ disse o candidato, que, em seu discurso, chamou Frossard de ¿juíza de coragem¿, dizendo que juntos trabalhariam para combater o tráfico de drogas.

Cesar Maia, que distribuiu cartões aos eleitores com a foto de Alckmin ao lado de Frossard, tentou explicar a ausência:

¿ A Denise Frossard está dando entrevista. Tem que se preparar, não pode chegar aqui, suar e sair correndo para lá ¿ justificou Cesar Maia, referindo-se à entrevista da candidata ao ¿RJ TV¿, que começaria às 18h45m. ¿ Com essa dupla, vamos botar bandido para correr, na cadeia ¿ disse o prefeito, que também cumprimentou eleitores e passou boa parte da caminhada com uma marca de batom do lado esquerdo do rosto.

Otimista, Alckmin afirmou que é possível reverter o resultado das pesquisas:

¿ A eleição agora é que está começando. A diferença é muito pequena: um dígito. Eu acho que se a gente chegar com quatro, cinco pontos atrás na pesquisa, eu sou presidente do Brasil. Pode escrever.

Sobre a declaração do presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT), de que a origem do dinheiro do dossiê é criminosa, o tucano atacou:

¿ É coisa grave. Não é crível que ninguém saiba da origem do dinheiro. É claro que sabe. Agora, não querem falar a verdade. Talvez porque seja pior do que ficar escondendo.

Logo após entrar numa van para deixar o calçadão, eleitores gritaram o nome de Lula diversas vezes.

Mais cedo, na porta do jornal O GLOBO, onde participou de sabatina, Alckmin enfrentou uma saia-justa: foi surpreendido por uma manifestação de militantes do PMDB, comandados por Clarissa Matheus, filha do casal Garotinho, que gritavam palavras de ordem contra Lula.

¿ Quero deixar claro: a minha candidata a governadora do Rio é Denise Frossard ¿ afirmou, referindo-se ao fato de que Garotinho apóia o peemedebista Sérgio Cabral. ¿ Mas o apoio dos jovens é muito bem-vindo. Fico feliz.

Perguntado se fora convidado pelo ex-governador para a inauguração de comitês pró-Alckmin na Baixada, desconversou:

¿ Eu agradeço. Todo apoio é bem-vindo. Fico grato pela confiança e vamos trabalhar pelo Brasil e pelo Rio.

COM CABRAL, POPÓ E AGNALDO TIMÓTEO NO PALANQUE, DEFENDENDO PARCERIAS

Uma multidão de militantes do eclético leque de alianças que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou no Rio tomou ontem, em plena hora do rush, a Avenida Rio Branco, no Centro do Rio. Estimado pela PM em dez mil pessoas, a maior parte jovens, integrantes do PT, do PMDB, do PCdoB, do PTB, do PRB e do PSB aguardaram o presidente por mais de quatro horas, dando um nó no trânsito da cidade. No meio da multidão, Lula, na contramão do esquema montado por seus seguranças, desceu do carro oficial e seguiu a pé até um trio elétrico, que o levou a um comício na Cinelândia. Ao lado do candidato do PMDB ao governo do estado, Sérgio Cabral, e da deputada federal Jandira Feghali, candidata derrotada do PCdoB ao Senado, o presidente elogiou as estatais com sede no Rio e aproveitou para retomar o discurso anti-privatização:

¿ Aqui há empresas públicas extraordinárias, como o BNDES e a Petrobras. E os tucanos não digam que a gente faz terrorismo. A história deles no Brasil é uma história predadora. Eles parecem aquelas fábricas de demolição. Não podem ver uma coisa funcionando que querem colocar para vender ¿ disse Lula, que imitou o adversário Geraldo Alckmin (PSDB), repetindo a frase em que o tucano afirma que venderá o Aerolula, caso seja eleito.

Lula encerrará campanha no Rio, no dia 25

Lula, que encerrará no Rio, no próximo dia 25, sua campanha, afirmou que a parceria com Cabral trará benefícios ao estado:

¿ Lula e eu vamos governar de mãos dadas. Vamos trazer grandes investimentos para o estado ¿ disse Cabral, no discurso.

¿ Graças ao meu bom Deus, teremos pela primeira vez um governo que vai fazer parceria ¿ devolveu Lula, que prometeu liberar mais R$380 milhões para os Jogos Panamericanos.

O presidente agradeceu aos cariocas, por ter recebido 49% dos votos no estado no primeiro turno, nove pontos a mais do que em 2002.

¿ Mais do que nunca o povo carioca demonstrou: aqui, não vem que não tem, porque nós temos consciência política ¿ disse.

Lula comparou os novos aliados a soldados em uma luta em defesa do povo. A tropa inclui o deputado federal eleito pastor Manoel Ferreira (PTB), o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (PMDB), a deputada federal eleita pelo PCdoB Manuela D'Ávila (RS), o vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB) , presidente da UNE, Gustavo Petta e o ex-lutador Acelino Popó Freitas.

¿ Se no próximo debate alguém quiser brigar comigo, vou levar o Popó, para ficar do meu lado ¿ brincou Lula, que fez uma homenagem ao vereador paulista Agnaldo Timóteo:

¿ Um dos discursos mais extraordinários que um ser humano pode fazer em defesa do outro que é o que o nosso querido Agnaldo Timóteo fez me defendendo. Contra o ódio que uma pequena parte da elite paulista tem do Brasil e sobretudo do Nordeste.

Se de um lado o clima era de festa, para muitos o sentimento era de indignação. O caos que se instalou do Centro revoltou muitos que saíam do trabalho. No meio da militância, um senhor fez um protesto solitário, em fúria contra o fechamento da Avenida Rio Branco.

¿ Como posso ir para casa se eles tomaram a rua? Toda vez que tem eleição fecham essa que é a principal avenida do Centro. Eu não sou Lula nem Alckmin ¿ dizia, aos gritos, o senhor, que se identificou como Antônio Carlos.

Da janela de um escritório na altura do Largo da Carioca duas pessoas jogavam ovos na multidão que seguia o presidente.

A adesão do PMDB a Lula não foi unânime. Folhetos apócrifos contra o petista e a candidata ao governo do Rio, Denise Frossard (PPS), assinados pela Juventude do PMDB também foram distribuídos. O segmento do partido é presidido por Clarissa Matheus, filha da governadora Rosinha e do ex-governador Anthony Garotinho, que apóiam Alckmin.