Título: FH DEFENDE PRIVATIZAÇÕES E COMPARA LULA A MALUF
Autor: Plínio Teodoro
Fonte: O Globo, 18/10/2006, O País, p. 10
A decepção que tenho com o presidente é muito grande porque ele virou um político comum, banal¿, diz ex-presidente
SÃO PAULO. Em entrevista à rádio CBN ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu a política de privatizações de seu governo e disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, tornou-se um ¿político banal¿. Fernando Henrique ainda comparou Lula ao ex-governador Paulo Maluf (PP), que responde a diversos processos por desvio de dinheiro público e foi eleito deputado federal mais votado em São Paulo, com 739 mil votos.
Uma afirmação de Fernando Henrique à CBN causou polêmica: ¿Eu não sou contrário à privatização da Petrobras¿, reproduziram sites. Mas o sentido da frase não era este e, em nota mais tarde, ele disse que um cacoete de linguagem e um erro de transcrição provocaram o mal-entendido. Sua frase, disse, na verdade foi ¿eu não, sou contrário à privatização da Petrobras¿. E disse que as empresas devem ser públicas, mas não utilizadas para fins políticos.
A Petrobras divulgou nota contestando o que chamou de ¿insistentes declarações político-eleitoreiras sobre o desempenho da companhia, com claro propósito de confundir a opinião pública e difundir informações injuriosas e equivocadas. (...) A Petrobras, cujo acionista controlador é o governo brasileiro, tem alcançado, desde janeiro de 2003, sucessivos recordes, não apenas em relação aos lucros como também nas áreas tecnológica, de refino e exploração e produção¿, diz a nota.
A seguir, trechos da entrevista de Fernando Henrique e também a nota sobre a frase mal interpretada:
PRIVATIZAÇÃO 1: ¿Está havendo uma discussão arcaica se deve haver privatização ou não. Já houve privatização, funcionou. Em outros setores não pode haver, depende de circunstâncias, não há receita. A discussão não cabe¿.
PRIVATIZAÇÃO 2: ¿Ninguém vai privatizar a Petrobras. Mandei uma carta ao Senado, eu não sou contrário à privatização da Petrobras, a Petrobras tem que ser outra coisa, uma empresa pública e não como está, sendo utilizada para fins políticos. Vai ver para quem eles (os petistas) dão publicidade. É para fins políticos. Está errado. O Banco do Brasil tem que ser empresa pública e não para o valerioduto. Você tem empresas que devem ser do governo, mas não devem ser usadas por um partido. Empresas que não têm sentido em estarem no governo e devem ser privatizadas. O mundo todo faz assim. É demagogia dizer que não pode fazer porque está vendendo o patrimônio. É mentira. Estão mentindo e estimulando uma visão atrasada¿.
NOTA ESCLARECE POSIÇÃO SOBRE PRIVATIZAÇÃO: ¿Um cacoete de linguagem, de minha parte, e uma transcrição imprecisa da entrevista à Rádio CBN deram origem a um mal-entendido sobre minha posição quanto ao controle da Petrobras e do Banco do Brasil. Minha posição é clara: estas empresas devem ser públicas. Ao contrário do que vem ocorrendo no governo atual, que as utiliza para fins privados, no interesse de grupos e partidos políticos. Perguntado sobre a onda de desinformação e terrorismo eleitoral em torno do assunto das privatizações, declarei: ¿Mandei uma carta ao Senado. Eu não (e aqui caberia a vírgula ou o ponto e vírgula que ficou faltando), sou contrário à privatização da Petrobras. Ela deve ser outra coisa: uma empresa pública. E não ser utilizada para fins políticos¿. Sobre minha declaração, não cabe dúvida. Dúvida pesa sobre honestidade, inclusive intelectual, dos que fazem do vale-tudo um método de luta política.
EXTERMINADOR DO PASSADO: ¿Lula está sendo um exterminador do passado, porque conta o passado erradamente e não deixa olhar o futuro, levantando temas que já são mortos no mundo todo como se fossem temas para definir nosso futuro. É uma pena tudo isto¿.
LULA E MALUF: ¿Para quem começou como um líder renovador, mudou práticas sindicais, fez greve durante o autoritarismos, inovou o modo de fazer o protesto, nasceu contra tudo que havia de podre no sindicalismo e depois se tornar um político como outro qualquer, um político banal. É uma perda histórica. O presidente Lula está assassinando o símbolo que representa pela incapacidade de entender seu momento de grandeza na história. Estou falando de coração aberto. Vi o que era o Lula no passado e vejo o que é hoje. Outro dia, que ele foi ao debate, parece que eu estava ouvindo o (ex-governador de São Paulo Paulo) Maluf. Você faz uma pergunta e ele responde outra coisa, responde com um dado que não é verdadeiro. Tenho um sentimento de perda.¿
DOSSIÊ: ¿Quem deu o dinheiro, de onde veio a ordem? Não acho que seja só uma questão eleitoral, é mais grave. O presidente não pode dizer apenas que são uns meninos aloprados. São aloprados, mas qual a punição? Por que ele não chama os homens e pergunta: o que é isto? Quem deu o dinheiro? Gente próxima a ele está envolvida e ele diz que mandou embora. E nunca mandou.¿
PT: ¿Tínhamos um partido à moda antiga, que era o PT. Por trás da organização do PT houve a concepção do século XX, século XIX: uma classe, dos trabalhadores, vai organizar seu partido, ocupar o estado e mudar a sociedade. (...) O PT nasceu com este espírito e virou quase uma empresa. Que se organizou, se burocratizou, contratou gente e deu no que deu¿.
POBRES: ¿Isso (dizer que o PSDB tem preconceito contra pobres e nordestinos) é acirrar uma visão equivocada. A mesma coisa que faziam com ele e que eu não deixava. Diziam: quem não tem curso superior não pode governar, e fui o primeiro a dizer que não é verdade. Agora ele faz o contrário. A decepção que tenho com o presidente Lula é muito grande porque ele virou um político comum, banal, que usa estas coisas para ganhar eleição.¿
COMPARAÇÕES: ¿A inflação voltou a crescer em 2002 por causa do Lula. A crise de 2002 para 2003 é porque alguns setores do mundo acreditaram que o que o PT e o presidente Lula disseram era para valer e não era. Acreditaram e deu uma tremenda crise. Ele contornou a crise que ele mesmo criou. Até a (estabilização da) inflação ele diz que criou. Roubou aplausos do Kofi Annan (secretário-geral da ONU) e a inflação de quem estabilizou.¿ (O PT usou no programa eleitoral aplausos recebidos pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em assembléia da organização, dizendo que eles eram para Lula, que participou do evento)
* Do Globo Online
www.oglobo.com.br/pais/eleicoes2006