Título: NÃO HÁ VERGONHA. A PRIVATIZAÇÃO FOI NECESSÁRIA E IMPORTANTE¿
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Fonte: O Globo, 18/10/2006, O País, p. 11

Alckmin diz que aumentos de Lula para servidores foram de 1% nos primeiros anos e saltaram para 16% na eleição: `Ele não gosta de pobre, gosta de poder¿

Governador, por que os tucanos têm vergonha de dizer que privatizaram, tendo sido esse um dos principais atos de governo de Fernando Henrique?

GERALDO ALCKMIN: Não há vergonha, a privatização foi necessária e importante. Agora, não podemos aceitar a mentira. O que está acontecendo na campanha? A mentira política. Isso está errado. De onde tiraram que vou privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os Correios? Não tem nada que justifique isso. A privatização, feita à época do presidente Fernando Henrique, foi necessária, foi importante. A de São Paulo também. Agora não temos objetivo de privatizar essas instituições que foram elencadas. É mentira política para ganhar voto, sem nenhuma providência. Aliás, como também é mentira política dizer que vamos acabar com o Bolsa Família. Na realidade, essa rede de proteção social foi criada à época do presidente Fernando Henrique. Em São Paulo, eu instituí o Renda Cidadã, o Ação jovem, programas de complementação de renda.

O senhor em nenhum momento defendeu a privatização das telefônicas, por exemplo, não conseguiu explicar por que era necessário e dar exemplo de por que deu certo. Não é mais producente eleitoralmente discutir abertamente as privatizações? Pelo contrário, quando perguntado, o senhor responde ¿não vamos discutir o passado, vamos discutir o presente¿, que é uma forma de escapar da pergunta.

ALCKMIN: Tenho colocado claramente: a Embraer tinha quatro mil trabalhadores, hoje tem 12 mil. Telefone você tinha que declarar no imposto de renda, hoje você tem noventa, cem milhões só de celulares, fora telefonia fixa. Empresas que davam prejuízo, que o governo tinha que pôr dinheiro, hoje pagam imposto, geram riqueza. Então, sempre defendemos. O que não pode é aceitar mentira. Não vou privatizar o Banco do Brasil, nem a Caixa Econômica, nem a Petrobras, nem os Correios. Essa é uma coisa errada, não se faz política sobre a mentira, isso tem que nos indignar. A minha prioridade hoje não é vender ativo. A privatização cumpriu uma etapa importante. A minha prioridade é fazer concessão e parceria público-privada. E aí temos uma diferença importante com o Lula, com o PT. Por quê? Porque eles enfraqueceram as agências reguladoras, os marcos regulatórios, criaram uma insegurança jurídica, com essas invasões e o estímulo a esse tipo de procedimento.

O senhor, quando fala de Previdência, sempre diz que não vai propor o estabelecimento da idade mínima. Isso mostra que o senhor nunca olhou os dados da Previdência pois quem se aposenta por tempo de serviço, e seria afetado pela idade mínima, é quem tem mais, quem vive mais, quem se aposenta com o máximo. Não vai reduzir desigualdade. O senhor fez essa tese sem olhar os dados ou o senhor está defendendo por razões eleitoreiras?

ALCKMIN: Não há razão de natureza eleitoreira. Existem dois déficits: um déficit do INSS, em torno de quarenta e poucos bilhões de reais, que sempre vai ter. Por quê? Porque você tem aí um grande papel de distribuidor de renda. Quando nós, constituintes, dissemos olha, o Funrural, que ganha meio salário-mínimo, vai ganhar o piso de um salário mínimo, claro que não tinha receita para isso, não tinha cálculo atuarial, não tinha recurso para isso. Na realidade, tem que ter dinheiro do Orçamento mesmo, é óbvio.

Esse déficit é crescente, inclusive com o percentual do PIB.

ALCKMIN: Vamos mais longe. Existe um outro déficit, que é do setor público, que é o dobro do INSS. Que é de R$40 bilhões praticamente a União, e R$40 bilhões, estados e municípios. Perto de R$80 bilhões. E poucas pessoas, não chega a três milhões de pessoas. Do outro lado, você tem um grande papel de distribuição de renda.

Eu tenho esses números, queria que o senhor respondesse à minha pergunta.

ALCKMIN: Vou responder. Como vejo o caminho para reduzir o déficit do INSS? Acho que a questão de estabelecer idade mínima é complicada porque a expectativa de vida no Brasil é totalmente diferente. A expectativa de vida no Sul e no Nordeste...

Existem pessoas que sequer conseguem comprovar trabalho, não é, 40% que estão fora da Previdência?

ALCKMIN: Veja bem, eu não comungo dessa tese. Eu acho que se você estabelecer uma idade mínima para um país tão diferente, com diferenças de expectativa de vida média tão diferentes, você pode causar uma distorção. Como eu vejo o problema do déficit do INSS? Primeiro, o Brasil precisa crescer, crescendo 2% ao ano, é claro que você vai ter problema. Segundo, metade dos trabalhadores na economia informal.

O senhor vai fazer uma reforma da Previdência no setor público, novamente? Outra reforma?

ALCKMIN: Foi aprovada a PEC (Emenda Constitucional) da Previdência com os nossos votos, o governo não aprovaria a PEC sem os votos da oposição, nós votamos porque somos coerentes. O PT votava contra quando era o Fernando Henrique. Não tem a menor coerência entre o que fala e faz. E é incoerente no espaço: lá em Brasília lutava para aprovar, em São Paulo votou contra, quando eu fui na Assembléia aprovar o mesmo critério e a mesma reforma no estado. Então, o que aconteceu? Foi aprovada a PEC e até hoje não foi regulamentada. Vou fazer, completar reforma da Previdência do setor público, que o déficit é maior e é injusto sob ponto de vista social. E vamos avançar na questão do INSS.

Governador, o seu adversário puxou da gaveta alguns temas antigos do Brasil. A coisa dos pobres contra os ricos, a privatização, da Petrobras. E esse discurso, demodé em muitas partes do mundo, aparentemente faz sucesso. A impressão é que o senhor caiu nessa armadilha.

ALCKMIN: O que não é possível é aceitar a mentira, isso é grave. Ministros, que deveriam estar trabalhando, criaram uma central de boatos. Criaram a Mentirobrás. Aliás, uma campanha de medo. ¿Olha, tem que votar em mim porque o outro vai privatizar¿. Mentira. ¿Tem que votar em mim porque o outro vai acabar com o Bolsa Família¿. É uma coisa atrasada. Você transforma uma rede de proteção social em moeda eleitoral. Isso está errado. Governo não faz favor, dinheiro não tem marca partidária. Isso é um espírito anti-republicano. Aliás, o comportamento do PT e do Lula é de não ter apreço pela democracia. Eles têm um perfil autoritário. Privatização, tudo que foi feito está correto. O que está errado é a mentira. Para que enganar os outros?

O senhor nunca fez parte da intimidade política do governo FH. O Serra, que fazia, quando foi candidato chegou num ponto da campanha e disse que era diferente do Fernando Henrique e passou a não defender mais o governo dele. Por que o senhor, que não teve intimidade alguma com o grupo do Fernando Henrique, que teve que lutar contra esse grupo para sair candidato à Presidência da República, o senhor fica defendendo um governo com o qual não teve a menor intimidade?

ALCKMIN: Veja bem, acho que temos que ter o espírito de justiça. Claro que todo governo tem acertos, tem erros, mas teve muito mais acertos do que erros. Aliás, muita coisa que o governo atual colhe foi plantado, cultivado anteriormente. Acho que é um erro do Lula.

Mas as pesquisas mostram que está dando certo essa campanha dele, ele só faz crescer nas pesquisas.

ALCKMIN: Veja bem, vou fazer uma observação, que venho fazendo faz tempo, queria reiterar. O que vim falando, desde o primeiro turno? As grandes mudanças ocorrem no final da campanha. Isso valeu para o primeiro turno.

O senhor acha que, no primeiro turno, se não tivesse aparecido o dossiê e aquela montanha de dinheiro, o senhor ia para o segundo turno.

ALCKMIN: Antes do dossiê, nós já vínhamos num processo de crescimento. Aliás, vou dizer mais: agora, no segundo turno, a diferença é de um dígito. Tem pesquisas 11, 12, tem nossas, seis, cinco. Faz uma média aí, é 8, 9, é um dígito a diferença. É muito pouco.

Como um dígito?

ALCKMIN: Não chega a 10%. Vamos tirar uma média. Tem pesquisa que é 12 a diferença, tem pesquisa que é 11, a nossa é 6, tem pesquisa de 5. Se fizer uma média, é 8, 9.

Tanto o Ibope quanto o Datafolha mostraram que é de dois dígitos.

ALCKMIN: Ambos erraram. No meu caso, todos erraram, no mínimo, três, quatro pontos.

Mas, se tirar a margem de erro, cai para menos de dois dígitos.

ALCKMIN: Se tirar a margem de erro, 11 pode ser oito, 12 pode ser nove. E, na nossa, dá cinco, seis. Vamos fazer uma média das duas: mais ou menos oito, nove. Que seja dez, não tem problema. Essa eleição vai ser taco a taco, vai ser muito disputada. A minha pergunta é a seguinte: sob o ponto de vista ético, nós demos marcha-a-ré; sob o ponto de vista que o Mario Covas dizia ¿ que era para ele a primeira qualidade de um homem ou de uma mulher pública ¿ o apreço pela democracia, demos uma marcha-a-ré. Você vê que o candidato-presidente, só agora no segundo turno, nem entrevista dá, não presta contas à sociedade. Sob o ponto de vista de gestão, de eficiência, 34 ministérios, governo que não funciona. Aliás, já declarou que não vai cortar gasto nenhum. Então, podemos esperar mais aumento de imposto o ano que vem. Porque só nestes últimos 90 dias, aumentou 1% do PIB em gastos correntes. Sob o ponto de vista de crescimento, só 2%. Hoje está nos jornais queda da taxa de investimento externo. O Brasil deixou de ser um local atrativo para investimento. Então, para que reeleger? Perder quatro anos? Podemos ter um governo com uma equipe melhor, que não faça o aparelhamento do estado, que tenha política macro e microeconômica para o país crescer mais, que acredite nas reformas, que busque eficiência e qualidade no serviço público, esse é o caminho.

Mas te prejudica, governador, eles darem essa pecha de que o senhor é candidato da elite, o senhor é o candidato dos ricos, isso afasta do senhor esse eleitorado mais pobre?

ALCKMIN: Não é verdade. Primeiro, eu sou mais pobre que o meu adversário. Segundo, eu ganhei em onze estados do Brasil, sem máquina pública, sem ser presidente, sem estrutura do governo. Se formos pensar nessa questão da elite, se há um governo que privilegiou a elite é o atual governo. Gastam R$10 bilhões com bolsa-família ¿ e já tinham cinco milhões de famílias no tempo do Fernando Henrique ¿ e gastam R$156 bilhões com juros, para a Bolsa-rentista, bolsa- juros, num cenário internacional sem uma crise? A taxa de desemprego hoje é de 10,7, maior que a do Fernando Henrique. E num cenário internacional fantástico.

Ontem, no programa Roda Viva (entrevista com Lula), foi colocada a questão desse contrato da Telemar com o filho de Lula, que é um contrato de R$5 milhões com a empresa do filho de Lula. O Lula respondeu que era legal, não entrou nesse aspecto de conflito de interesses, ou o aspecto ético. Essa questão o senhor nunca colocou em sua campanha, uma campanha muito marcada por denúncias, exatamente nessa área da ética. O senhor toca muito na ética, mas não no caso Telemar. Passa a impressão de que, com isso, o senhor diz ¿olha, nem eu toco na questão do filho dele, nem ele toca na questão da minha filha, a questão da Daslu¿. Como o senhor vê esse raciocínio?

ALCKMIN: De jeito nenhum. Eu sou um republicano. Não tem essa história de família. Nada, nada, nada. São coisas incomparáveis. Eu faço questão de colocar, eu explico as coisas, não fujo das perguntas. Duas colocações foram feitas, aliás, no site do PT, extremamente injustas. Primeiro a minha filha, que entrou como vendedora na Daslu, estudante universitária, foi convidada por uma amiguinha de escola para ir no Natal ser vendedora. Ela foi, trabalhou dois meses como vendedora no Natal, depois saiu, continuou seus estudos. Depois, no meio do ano, surgiu uma vaga, gostaram dela, convidaram para ser vendedora. Ficou anos e anos lá, trabalhou como funcionária de uma loja, ganhando honestamente seu dinheiro. A minha mulher nunca foi funcionária pública. Eu tenho tanto cuidado com essa questão ética que a Lu trabalhou comigo na prefeitura. Comandou a feira da fraternidade, movimentos sociais, grávida do primeiro filho, se esforçava. Nunca recebeu um centavo. Ela tinha uma butiquezinha lá em Pinda para ganhar um dinheirinho. Depois, fui deputado estadual. Ia na Assembléia todo dia, levava lá meu lanche, ficava até meia-noite lá me ajudando, nunca foi nomeada para nada. Deputado federal, oito anos, toda a parte de computação, mandar responder as cartas, ela fazia na Câmara federal, nunca nomeada para nada. Mario Covas governador. Trabalhou como voluntária com a dona Lila anos e anos ajudando. Aprendeu muito com a dona Lila. Nunca foi funcionária de nada. Errou, deu margem a essa especulação, não teve nenhum benefício pessoal.

Errou em que exatamente? O senhor se refere aos vestidos?

ALCKMIN: Errou porque não deveria ter recebido. O estilista lá, não foram 400 vestidos, foram poucas peças, usou, disse que usou, ¿olha era o estilista tal¿, todo ano aqui. Muito antes de ser divulgado, tenho tudo aqui na minha pasta: Santa Casa, Apae, Lar dos velhos, Lar da criança. As entidades o que faziam? ¿Esse vestido foi usado pela primeira-dama, é do estilista famoso, leilão¿. Qual o prejuízo para o estado? Nenhum, zero. Segundo, ajudou entidades. Agora, eu não entro nessa questão familiar não é para que não falem da minha família. Podem falar à vontade. Aliás, eu quero que fale. Eu tenho que prestar contas à sociedade, eu sou homem público, minha vida é pública, não é privada. Sou obrigado a prestar contas. Aliás, o PT quer sempre tirar proveito. Ele põe no site para tentar desgastar o adversário, depois dá uma de bonzinho. ¿O presidente mandou tirar porque ele quer preservar a família¿. Eu não toco nessa questão do filho para não parecer uma questão de natureza pessoal. Eu quero falar com muita firmeza das questões de governo, que eu acho que são graves. Não podemos achar que o que aconteceu e está acontecendo no Brasil é normal.

Aquela pergunta do cartão corporativo que o senhor fez para ele, o senhor tem conhecimento de gastos excessivos, de uso indevido, por parte da família do presidente, em relação a esse cartão?

ALCKMIN: Entendo que dinheiro público você tem que prestar contas todo dia. Dinheiro público não é de ninguém, é seu, é dele, é dela. Mas isso é um princípio. Governo precisa ter princípios e valores. Por que não presta contas? Está errado. A informação que se tem é que os valores são absurdos, saque na boca do caixa, não tem o menor controle. Agora, por que não presta contas? Até para explicar que não é nada disso.

Governador, o presidente disse que o senhor estava ensandecido naquele debate. O senhor vai continuar ensandecido?

ALCKMIN: Não, não estou ensandecido.

O senhor se arrepende do tom utilizado no debate, que, segundo as pesquisas, o senhor teria passado do ponto e isso teria trazido prejuízos para o senhor?

ALCKMIN: Nós não podemos perder a nossa capacidade de nos indignar frente ao que está errado. Então, acabou a política. Se a gente achar que a política é isso, é esse vale-tudo, não é possível. Eu respeito as pessoas, mas eu tenho o dever de me indignar frente ao que está errado. Não é correto, 32 dias depois, o PT e o próprio Lula, porque são os amigos dele, pessoas da sua intimidade, não dizerem para o país de onde veio o dinheiro. O que é isso? Por que esconder? Agora, vem lá o presidente da CPI, o Biscaia, dizer que isso é dinheiro criminoso, sujo. As coisas não são feitas de forma verdadeira. E não são fatos isolados. Isso aí não foi um fato isolado, pegou com a boca na botija. É o vale-tudo, uma visão atrasada, patrimonialista. Tomar o poder, o PT tomou o poder, para si, para os seus, para seu time. Eu nunca coloquei nem vou colocar a questão do filho do presidente porque não quero que a minha contundência frente àquilo que eu vejo que está errado, alguém ache que possa ser alguma coisa de natureza pessoal, menor. Não.

O senhor acha que houve conflito de interesses nesse caso? A Telemar é uma empresa que depende muito do governo. Toda a política de preços da telefonia, novas tecnologias, acesso a modelos de telefonia mais modernos. Tudo isso, uma empresa como a Telemar precisa do governo. Então, quando ela contrata o filho do presidente por R$5 milhões isso o senhor não encara como conflito de interesses?

ALCKMIN: É óbvio que isso não é coincidência, não é obra do acaso. Não vou levar isso para a campanha porque não quero que alguém possa imaginar... quero ser muito contundente nas questões de estado, de governo, que eu acho que não podem continuar do jeito que está. Vou fazer um outro embate, para não misturar questões de natureza...

O senhor fala de nomeações políticas, de ocupação política. O PSDB por acaso não fazia isso quando era governo?

ALCKMIN: Olha, o PSDB montou uma equipe de altíssimo nível. Eu estava passando os olhos, na viagem, vindo do Maranhão, naquele livro do bunker, do real (¿3000 dias no Bunker ¿ Um Plano na cabeça e um País na Mão¿). Na realidade, é inegável que você priorizou equipes, a pessoa certa no lugar certo. Governo, administração, primeiro é gente, segundo é gente, terceiro é gente. O aparelhamento do estado atual é inconcebível.

O governo passado teve seis ou sete ministros da Justiça, até o Íris Resende foi ministro da Justiça, o Renan também. O senhor acha que isso é uma coerência, digamos assim, na ocupação da máquina pública?

ALCKMIN: Mas nunca chegou perto do aparelhamento que temos hoje.

O governo Fernando Henrique deixou os cargos em confiança em dezoito mil e poucos. O governo Lula elevou para dezenove mil. O senhor tem falado muito em reduzir os gastos dessa natureza. O senhor pretende reduzir quanto desses cargos? Qual a sua política para isso?

ALCKMIN: Para mim, a questão fiscal é uma questão central. Por que? Qual a receita atual? Aumentar gastos, claro, você cria despesa, precisa criar receita, aumentar a carga tributária e cortar investimento. Essa é a receita para o Brasil não crescer. Aí põe no piloto automático da política monetária, taxa de juros lá no céu para não ter inflação. O Brasil perdendo oportunidade. O que vamos fazer? Sei que não é fácil, mas nós temos experiência, fizemos com Mario Covas em São Paulo. Eu vou fazer um ajuste fiscal. Não tem uma solução mágica. Mas vou pegar de ponta a ponta, vai começar pelo gabinete da Presidência. Assessores, custeio, compras eletrônicas, tamanho do estado, eficiência, ponto por ponto. E reformas estruturantes. Isso tem efeito no curto prazo, no médio e no longo prazo. Ao menos cortar o que está acontecendo hoje. Quem entrar o ano que vem, seja quem for, já entra com um aumento de 1,3% do PIB em gastos correntes. Os aumentos deste ano pegaram meio ano, pegaram nove meses, não pegaram o ano inteiro. Então, quem entrar o ano que vem já entra com uma situação pior. Essa questão fiscal é para valer. Precisamos ter uma cultura de ajuste. O presidente declarou nos jornais que não tem onde cortar. Então, não tem jeito, o Brasil vai ter que se contentar em ter carga tributária de 40% do PIB, a maior taxa de juros do mundo, um câmbio com dólar desvalorizado artificialmente, não vai crescer. O país não está condenado a isso. Para mim, é uma questão central.

O Lula ontem reclamou da reeleição e da regulamentação que os tucanos ¿fizeram¿.

ALCKMIN: Ele reclama da reeleição mas ele usa a máquina.

O PT e o PSDB estão convergindo, então, para críticas à reeleição e à regulamentação.

ALCKMIN: Imagine numa cidade pequena do interior, se isso pode ser feito em Brasília, imagine num município menor... Esse é um tema do Congresso Nacional. Mas eu, se puder, vou trabalhar para acabar com a reeleição. E digo mais: sou contra mandato de cinco anos, porque vai deixar de coincidir as eleições

Tudo cinco anos?

ALCKMIN: Não, sou contra. Como você não vai aumentar, fica tudo quatro. Se não, vai ter eleição todo ano. Se você começar a trabalhar desde o primeiro dia, quatro anos é um bom mandato. Já fui prefeito, governador. Dá para fazer muita coisa.

Entrando na campanha admitindo cortar quatro anos num eventual segundo mandato, isso não é uma demonstração de fraqueza terrível?

ALCKMIN: Essa é uma decisão do Congresso Nacional.

Mas o senhor está defendendo essa tese.

ALCKMIN: Eu entendo que, para o Brasil, na atual circunstância, é melhor ter mandato de quatro anos. Reeleição pode ser coisa boa, mas é preciso ter regras, do jeito que está não é possível.

Não é melhor, então, fazer a regra, e permanecer um instituto que nem foi testado direito ainda?

ALCKMIN: Depende do Congresso Nacional. Vou fazer uma observação de quem teve oito mandatos populares: você tem que se incumbir de tarefas necessárias, que não podem ser adiadas, despreocupado com o calendário eleitoral. Um exemplo de como as coisas não estão corretas hoje: quanto foi o aumento real do salário-mínimo no primeiro ano do governo Lula? 1%. No segundo ano, 1%. Esse ano da eleição, 16%. Não é que ele goste do pobre, ele gosta do poder, é diferente. Utilização da máquina pública e as coisas girarem em torno do processo eleitoral está errado. A questão dos gastos, as liberações...

O senhor acha que, sem a reeleição, no governo passado, seria mais fácil encaminhar a saída do câmbio fixo?

ALCKMIN: Pode ser, difícil de analisar o que já passou.

O senhor falou de paulistério. É uma das críticas comuns essa concentração de forças em São Paulo, do PT e do PSDB. São Paulo sufocando o Brasil. Isso é vendido principalmente no Nordeste e no Rio.

ALCKMIN: Se pegar o governo Lula, temos: Palloci, São Paulo; Gushiken, São Paulo; Berzoini, São Paulo; Genoino, São Paulo; Professor Luizinho, São Paulo; Chinaglia, São Paulo... Os líderes... José Dirceu, primeiro-ministro, Márcio Thomaz Bastos, Guido Mantega, Furlan, Roberto Rodrigues, enfim...

É injustiça com os gaúchos: tinha quatro gaúchos no Ministério Lula também... E o Fernando Henrique também tinha muitos paulistas.

ALCKMIN: Pretendo ter representação mais nacional.

É disso que o Aécio fala, desse paulistério...

ALCKMIN: Não vamos fazer isso.