Título: CPI APROVA A QUEBRA DE SIGILO DE FREUD GODOY
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 18/10/2006, O País, p. 18
Berzoini e outros sete petistas investigados pela PF no escândalo da compra do dossiê serão convocados a depor
BRASÍLIA. A CPI dos Sanguessugas aprovou ontem a quebra do sigilo bancário e fiscal de Freud Godoy, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a convocação de Freud e do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini para prestar depoimento na comissão. Além deles, os outros seis petistas investigados pela Polícia Federal sob suspeita de estarem envolvidos na operação de compra do dossiê contra os tucanos também foram convocados pela CPI para dar explicações.
A data dos depoimentos ainda não está marcada. Agora, a oposição vai pressionar para que os envolvidos no escândalo sejam ouvidos semana que vem, antes do segundo turno da eleição. Os governistas são contra. O presidente da CPI, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse ontem, depois de se queixar da briga política que marcou a reunião, que ainda vai decidir para quando marcará os depoimentos. Mas os oposicionistas já começaram a pressionar:
¿ Se houver possibilidade, devemos ouvir todos antes da realização do segundo turno das eleições ¿ afirmou o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).
Oposição não conseguiu convocação de Abel Pereira
Durante a reunião, os governistas tentaram votar o requerimento para que o empresário Abel Pereira, acusado por Luiz Antônio Vedoin de intermediar negócios de sua empresa com o Ministério da Saúde no governo Fernando Henrique, fosse convocado. Não tiveram sucesso.
¿ Temos de ouvir as pessoas envolvidas na compra dos documentos, mas também aprovar a convocação dos envolvidos no conteúdo dos documentos. Abel faltou a depoimento na PF ¿ tentou argumentar a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).
Serão ouvidos pela CPI Berzoini, Freud, o ex-chefe do serviço de inteligência do PT Jorge Lorenzetti; o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso; o ex-assessor da campanha pela reeleição de Lula Osvaldo Bargas; o ex-assessor do senador Aloizio Mercadante Hamilton Lacerda; o policial aposentado Gedimar Passos; e o empresário Valdebran Padilha.
Os dois últimos foram presos com o R$1,7 milhão que seria entregue a Vedoin em troca dos papéis que supostamente comprometeriam tucanos com sanguessugas. Lacerda, que trabalhava na campanha de Mercadante ao governo paulista, é apontado pela PF como o homem que entregou o dinheiro.
Ex-assessor de Costa e Berzoini também será ouvido
A comissão aprovou também a convocação de Francisco Rocha, que foi assessor de Humberto Costa no Ministério da Saúde. Conhecido entre os petistas como Rochinha, ele foi acusado por Vedoin de ser um dos intermediários para liberação de recursos na pasta durante a gestão petista.
Rochinha trabalha na campanha pela reeleição do presidente. Ele era assessor de Berzoini, quando o petista ainda era o coordenador-geral da campanha.
Embora a sessão de ontem da CPI tenha sido marcada pelo bate-boca entre governistas e oposicionistas que lutavam para pôr em votação ou não determinados requerimentos, a reunião começou com uma proposta de acordo feita pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI. Ele propunha a criação de um grupo dentro da comissão para analisar as investigações feitas pela Polícia Federal sobre o caso do dossiê.
Depois desta análise e da eleição, propôs Gabeira, a CPI poderia decidir quais providências tomaria. Contando com a ausência de parlamentares do governo na sala, os líderes da oposição, entretanto, preferiram partir para a votação dos requerimentos. Antes mesmo do início da sessão, o deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE), antecipava as dificuldades que os governistas teriam:
¿ Estão querendo transformar a comissão numa CPI dos Bingos, que investigou até o inferno das cuias. Chamar ministro para vir aqui é palhaçada em momento eleitoral. Temos de analisar os dois inquéritos, o que investiga o dossiê e as denúncias de pagamentos feitos por Vedoin a pessoas indicadas por Abel Pereira, que teve o seu sigilo bancário e telefônico quebrado pela Justiça Federal.
Outro assessor de Lula ficou fora da investigação
O senador Artur Virgílio (PSDB-AM) apresentou no começo da reunião um requerimento para que a CPI ouvisse também José Carlos Espinosa, que até o começo da campanha trabalhava no gabinete da Presidência em São Paulo. O tucano justificou a necessidade de ouvi-lo com o argumento de que ele havia sido citado pela revista ¿Veja¿ como integrante de uma manobra montada para retirar Freud da lista de suspeitos de envolvidos no dossiê.
Espinosa, assim como Freud, foi nos últimos dez anos um dos assessores mais próximos do presidente Lula. O tucano citou inclusive uma entrevista antiga de Lula na qual fazia referências a sua amizade com Espinosa. O requerimento, entretanto, não foi votado porque a comissão adotou a regra de só votar pedidos feitos com mais de 24 horas de antecedência da reunião.