Título: ONU: EUA INTENSIFICAM CAMPANHA ANTI-VENEZUELA
Autor: Helena Celastino
Fonte: O Globo, 18/10/2006, O Mundo, p. 45

Países trocam acusações em dura disputa na caça a votos por vaga no Conselho de Segurança

NOVA YORK. A disputa entre a Venezuela e a Guatemala pela vaga da América Latina no Conselho de Segurança da ONU virou uma guerra aberta entre o presidente Hugo Chávez e os representantes dos Estados Unidos. Apoiada pelos americanos, a Guatemala venceu 21 das 22 rodadas de votação, mas não conseguiu os dois terços de votos necessários e, exaustos, os diplomatas acertaram uma trégua de 24 horas depois de um dia de negociações fracassadas e intenso tiroteio entre americanos e venezuelanos.

Para impedir que Chávez use o mais importante fórum da ONU como amplificador da sua agenda política, os americanos suspenderam as discussões sobre a corrida nuclear no Conselho de Segurança e reforçaram sua representação com os altos funcionários do Departamento de Estado, entre eles Tom Shannon, o responsável do governo Bush pela América Latina.

Já a Venezuela, antecipando o fracasso no projeto de usar o conselho para ampliar a influência de Chávez na política internacional, elevou o tom das acusações aos EUA. Disse que se recusava a retirar a candidatura até o presidente George W. Bush ou seu embaixador na ONU, John Bolton, anunciarem que vão parar de ¿extorquir¿ votos a favor da rival Guatemala.

¿ O objetivo dos americanos é nos humilhar. Mas não vamos desistir da vaga no conselho. No final, eles sairão humilhados ¿ disse o presidente Hugo Chávez.

Com arrogância, o embaixador dos EUA respondeu que a oposição americana à Venezuela era exatamente para evitar comportamentos desse tipo no Conselho de Segurança e que as acusações venezuelanas eram só mais um exemplo de que Washington está certa.

¿ Mantivemos a discrição, mas falamos das nossas preocupações com o comportamento da Venezuela. Aí está o exemplo ¿ disse Bolton.

Durante todo o dia, o placar de votos praticamente não se mexeu: a Guatemala na faixa dos 107 votos e a Venezuela em torno dos 75, com oito abstenções. Mesmo vitorioso, o embaixador do país centro-americano reconheceu que virou um peão nesse jogo e que um terço das delegações parece estar bloqueando a candidatura da Guatemala.

¿ Vamos esperar mais um pouco ¿ disse Gurt Rosenthal.

O impasse fez vários diplomatas relembrarem as 155 rodadas de votações de 1979, quando Cuba e Colômbia se enfrentaram na disputa por uma cadeira do Conselho durante mais de três meses e um terceiro, o México, acabou eleito.

¿ Era a época da Guerra Fria, não vivemos mais isso. Precisamos achar um consenso ¿ disse o embaixador do Chile, Heraldo Muñoz, que se absteve de votar desde ontem.