Título: ACUSAÇÕES GENERALIZADAS
Autor: Maia Menezes e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 20/10/2006, O País, p. 3
Lula e Alckmin debatem sobre diversos temas, trocando ataques não apenas sobre corrupção
Adez dias da eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputa a reeleição pelo PT, e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, trocaram acusações em debate realizado pelo SBT, mas num tom mais moderado que no primeiro encontro, na Bandeirantes, logo no começo do segundo turno. Ontem, em vez de concentrar ataques e contra-ataques no tema corrupção, as acusações resvalaram para diversos temas, como educação, saúde, segurança, agricultura, crescimento econômico, gastos com juros, e também corrupção. Alckmin estava no ataque, mas com ênfase mais moderada que no debate anterior. Lula saiu da defensiva e também atacou, fazendo acusações tanto à gestão do adversário em São Paulo como à do ex-presidente Fernando Henrique.
Sorteado para fazer pergunta sobre o tema da corrupção, Alckmin enumerou escândalos no governo Lula, como valerioduto, mensalão, dossiêgate. Lula reagiu:
¿ Essa campanha vai terminar sendo uma campanha de uma nota só. Se estão aparecendo (os casos de corrupção), é porque o governo, como nunca na história do país, está apurando. Nós tomamos a iniciativa de apurar, doa a quem doer ¿ disse Lula.
Alckmin reagiu com um trocadilho e afirmou que as investigações foram feitas pelo Congresso e pela Justiça:
¿ Primeiro não é uma questão de uma nota só. São 1,7 milhão de notas. Depois, não é o governo que está apurando, são CPIs. É a Justiça. O fato é que a sociedade tem o direito de saber (a origem do dinheiro), um fato grave, envolvendo um crime. Não é possível que ninguém saiba disso.
Ataques sobre segurança
O presidente também provocou o adversário quando tratou de segurança. Alckmin, sorteado para ser o primeiro a comentar o tema, afirmou que ¿não tem nenhuma capital que não tenha na manchete a violência¿. Ele fez um balanço de sua administração no governo paulista, na área de Segurança e atacou o governo:
¿ Fiz a minha parte. O problema é que por trás das questões de segurança está o tráfico de drogas. O que temos é omissão do governo federal, que tem política de fronteira e tem obrigação de combater o tráfico. A omissão é total. O governo cortou pela metade o fundo de segurança e o fundo penitenciário.
Lula contra-atacou, criticando a gestão do adversário em São Paulo:
¿ Pelo amor de Deus, que o povo de São Paulo não ouça, senão vai achar que vai ter PCC no Brasil inteiro. Quem teve 12 anos para fazer e não fez por São Paulo vai fazer pelo Brasil inteiro? Nós propusemos um sistema de integração, e só São Paulo não fez ¿ disse o presidente.
Alckmin respondeu:
¿ Primeiro em relação à ironia do PCC: não tem nenhum líder de organização criminosa que esteja solto. Lamento é que criminosos de colarinho branco estão faceiros, não punidos pela Justiça. Eu tenho um lado: contra o crime.
Lula perguntou a Alckmin sobre privatização:
¿ Tudo foi privatizado. A dívida aumentou. O Brasil quase quebrou. Sem que a gente fica nervoso aqui, qual é a sua visão realmente sobre privatização? Por que tanto o PSDB fez a nível nacional quanto ele (Alckmin) a nível local.
O tucano disse que se a privatização for necessária, não tem problema, ¿o que não pode é mentir¿, reafirmando que não vai privatizar Banco do Brasil, Petrobras, CEF e Correios, como têm dito petistas:
¿ Quem tinha telefone antes da privatização? Tinha de declarar no Imposto de Renda. Hoje, 90 milhões de brasileiros têm um celular, fora a telefonia fixa. Se estivesse errado, ele devia ter reestatizado. Não reestatizou nenhuma empresa. Privatizar, se for correto, deve ser feito. O que não pode é mentir ¿ disse.