Título: TURCÃO NEGA PARTICIPAÇÃO NO CASO DO DOSSIÊ
Autor: Elenilce Bottari
Fonte: O Globo, 20/10/2006, O País, p. 9
`Não sei de onde tiraram meu nome. Não fiz qualquer tipo de pacto e também não fui procurado por ninguém¿
Apontado pela Polícia Federal do Cuiabá como o suposto dono de pelo menos R$5 mil do R$1,7 milhão apreendido com petistas para comprar um dossiê contra tucanos, Antônio Petrus Kalil, o Turcão, um dos maiores bicheiros no Estado do Rio entre as décadas de 60 e 90, disse ontem não ter participação no caso. Aos 81 anos, ele disse ter ficado surpreso ao ouvir seu nome durante entrevista do delegado Diógenes Curado, da Polícia Federal, na noite de quarta-feira:
¿ Não sei de onde tiraram meu nome. Não fiz qualquer tipo de pacto envolvendo esse dossiê e também não fui procurado por ninguém. Estou aposentado e, devido ao meu estado de saúde, saio muito pouco de casa ¿ afirmou Turcão.
O relatório do delegado Diógenes Curado conclui que R$5 mil do dinheiro apreendido com os petistas têm origem em uma das bancas do jogo do bicho em uma área que seria controlada por Turcão. Entre as notas apreendidas, havia as anotações ¿118 - Caxias¿ e ¿119 - Cpo Grande¿, que a polícia interpretou inicialmente como sendo de agências bancárias e, mais tarde, como sendo códigos usados pela contravenção e que indicariam bancas de bicho do bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, e de Caxias. Turcão, no entanto, disse que nunca controlou o jogo nesses locais:
¿ Nunca tive qualquer negócio nesses lugares. Nada. Também não conheço esses códigos e não tenho idéia do que seja isso ¿ disse, negando ainda que a Polícia Federal tenha feito qualquer apreensão em seus imóveis ou negócios.
Turcão foi um dos mais importantes contraventores da chamada cúpula do jogo do bicho e sempre foi apontado como dono dos pontos de Niterói. Diferentemente dos colegas Castor de Andrade, Waldomiro Paes Garcia, o Miro, e Aniz Abraão David, o Anísio, que durante o carnaval chamam atenção como presidentes de escolas de samba, Turcão sempre foi discreto e reservado.
Um dos condenados por Denise Frossard
Condenado com outros nove contraventores em 1993 a seis anos de prisão pela juíza Denise Frossard, ele teve a pena reduzida pelo STJ a três anos. Segundo a polícia, depois de solto Turcão teria ampliado seus negócios para os estados da Bahia e de Pernambuco. Em 2004, o contraventor voltou a ser notícia com a descoberta de um serviço telefônico (o tele-bicho) que fornecia ao apostador os sete números sorteados nas três premiações diárias. De acordo com a Telemar, o tronco telefônico usado foi comprado pela Associação Filantrópica Antônio Kalil, que pertence a Turcão.
Uma de suas últimas aparições públicas com a velha-guarda da contravenção foi durante o enterro de seu sócio e presidente da Unidos do Viradouro, de Niterói, José Carlos Monassa, que morreu de úlcera em agosto de 2005. Além de Turcão, participaram do funeral Anísio e o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães.
Entre outros negócios, Turcão é o dono do complexo Tio Sam, em Niterói, que reúne hotel, uma rede de academias de ginástica, parque, clube, restaurante e até uma creche, empreendimentos tocados por sua família.