Título: ALCKMIN ADMITE ERROS AO PRIORIZAR DESMENTIDOS
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 20/10/2006, O País, p. 11
Erramos quando embarcamos no debate da privatização, não pelo mérito, mas pelas mentiras¿, disse tucano
SÃO PAULO. O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, admitiu ontem que o comando do partido falhou ao concentrar a campanha do segundo turno em desmentidos às declarações de petistas de que, se eleito, privatizaria o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e os Correios. Tal reconhecimento ocorre um dia após o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros criticar a ¿falta de coragem¿ de Alckmin para rebater o discurso do PT.
¿ A questão da privatização está errada. Acho até que erramos quando embarcamos nesse debate, não pelo mérito, mas pelas mentiras reiteradas ¿ disse Alckmin, afirmando que a campanha deveria ter se desviado do que chamou de ¿central de boatos do PT¿.
¿ A pauta da privatização foi supervalorizada ¿ disse ele, em sabatina da ¿Folha de S. Paulo¿, realizada ontem no Teatro Folha, em São Paulo.
¿Tem setores que foram privatizados e foi correto¿
Em meio ao mal-estar provocado pelas críticas de Mendonça de Barros, o tucano defendeu o processo de privatização na gestão anterior.
¿ Tem setores que foram privatizados e foi correto. Não tinha sentido o governo ter siderúrgica. Foi correto: privatizou a CSN. A Embraer teve um papel de Estado importante, depois foi superado. Ela tinha quatro mil funcionários, hoje tem 12 mil. Telefonia, quando houve a estatização, teve um significado, mas passou. O reflexo é que teve R$100 bilhões de investimentos, hoje tem 90 milhões só de celular. O acesso foi universalizado. Isso foi positivo.
Alckmin reiterou que, se eleito, reduzirá despesas do governo. Disse que venderá o Aerolula, reduzirá o número de ministérios e ajustará a equação entre políticas fiscal e monetária. Endossou a tese defendida pelo economista Yoshiaki Nakano de que é possível zerar o déficit nominal no próximo governo.
¿ Vamos alcançar déficit zero. Dá para fazer em quatro anos, o mais rápido possível, estou plenamente de acordo com Nakano ¿ disse ele.
Sobre a reeleição, Alckmin repetiu que não se pode mudar uma regra estabelecida no caso de governantes já eleitos. mas que mandaria para o Congresso uma lei que acabaria com o instituto da reeleição:
¿ No que depender de mim, acabo com a reeleição e começo dando meu exemplo de fazer um mandato de quatro anos bem feito.
Indagado se o PSDB deu munição para os adversários ao não assumir postura crítica em relação ao envolvimento do senador Eduardo Azeredo (PSDB) no valerioduto, foi taxativo:
¿ Ele deveria ter saído do partido.
Alckmin minimizou o resultado do último Datafolha, que mostra diferença de 20 pontos a favor de Lula. Para ele, o quadro não está decidido a favor de ninguém. Também acusou a administração de Lula de fazer uso eleitoral do aumento do salário-mínimo:
¿ O salário-mínimo teve 1% de ganho real no primeiro ano, 1% no segundo e 16% no terceiro. O compromisso desse governo não é com os pobres, mas com o poder.
Sem polemizar sobre aliados, Alckmin elogiou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o governador eleito do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PFL-DF), que renunciaram aos mandatos depois de terem seus nomes envolvidos na violação do painel do Senado:
¿ Quem praticou algo errado tem que ser punido, mas não podemos ter essa visão sectária e maniqueísta. São pessoas que governam muito bem para os seus estados.
¿Vamos trabalhar para ganhar a eleição¿
Alckmin não respondeu se daria continuidade a um eventual processo de impugnação da candidatura de Lula por conta do dossiê, mesmo se perdesse ou vencesse a eleição.
¿ Vamos trabalhar para ganhar a eleição. Um time novo pode fazer mais do que a turma que está aí ¿ disse.
Para ele, o governo debocha da sociedade ao não revelar o que há por trás do dossiê:
¿ Todos sabem que é só chamar os amigos de 30 anos que a coisa está solucionada.
Alckmin rebateu o ministro Tarso Genro, que o acusou de agir como o ditador Pinochet ao dizer que outro mandato de Lula terminaria antes de começar.
¿ Sempre fui a favor da redemocratização e essa comparação é um absurdo.