Título: Mendonça de Barros: faltou coragem a Alckmin para rebater críticas do PT
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 19/10/2006, O País, p. 4
Comandante das privatizações no governo FH critica reação do tucano
SÃO PAULO. O ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros, um dos comandantes das privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, não teve coragem de rebater a propaganda anti-privatista do PT. Para Mendonça, Alckmin deveria ter defendido as privatizações feitas na gestão de Fernando Henrique em vez de tentar desmentir os petistas. A falta de reação rápida e adequada foi, segundo ele, um dos fatores do distanciamento de Lula nas pesquisas no segundo turno. A resposta correta só veio na entrevista de Alckmin ao GLOBO, publicada ontem, disse.
- O candidato no começo foi tímido. Faltou coragem. O PT conseguiu demonizá-lo. Ele errou aí. Tem que ter coragem para responder. Não pode ter medo - disse Mendonça.
Ex-ministro se diz revoltado com candidato tucano
O ex-ministro admitiu estar revoltado com a falta de atitude de Alckmin:
- Fico revoltado por dois motivos. Primeiro, porque fui um dos elementos do processo. Depois, porque as privatizações levaram a vida do Sérgio Motta (ex-ministro das Comunicações, morto em 1998), meu grande amigo.
Segundo ele, Alckmin poderia ter reagido imediatamente com um discurso de apelo popular em defesa das privatizações.
- Em 1995, quando o processo começou, existiam 900 mil telefones celulares no Brasil. Hoje são 98 milhões. O celular é um instrumento de trabalho da população de baixa renda - lembrou o ex-ministro tucano.
Embora tenha defendido a manutenção do Banco do Brasil sob controle do Estado, Mendonça disse que algumas estradas federais, principalmente as costeiras, poderiam ser privatizadas, e que o governo poderia reativar o processo de concessões no setor elétrico. Quanto à Petrobras, foi reticente, mas admitiu que a possibilidade pode ser discutida.
- A Petrobras tem grande papel na auto-suficiência de petróleo, porque 20 anos atrás a exploração em grandes profundidades era inviável comercialmente e só uma empresa pública poderia fazer investimentos de grande monta por razões estratégicas. Por outro lado, a Petrobras poderia explorar muito mais do que está explorando e não o faz porque o fato de ser estatal limita sua capacidade de endividamento - ponderou.
Segundo o ex-ministro, a falta de reação de Alckmin fez Lula se distanciar nas pesquisas:
- Nosso candidato deixou Lula transformar um sucesso em um fracasso. Isso é o que me revolta.
Mendonça participou das primeiras reuniões da equipe que elaborou o programa de governo de Alckmin, mas se afastou para evitar divergências que atrapalhassem a campanha:
- O PSDB tem várias correntes. Alckmin adotou todas. Sou um sujeito muito áspero. Quem está trabalhando no projeto de política macroeconômica é o José Roberto (Mendonça de Barros), meu irmão, que é melhor economista que eu e não arruma tanta confusão.