Título: Lula: 'Greves têm que ser feitas de forma diferente'
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 19/10/2006, O País, p. 9

'Um trabalhador que trabalha no metrô, ele não precisa parar a greve, ele pode abrir as catracas para o povo'

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-sindicalista, disse ontem que é preciso regulamentar o direito de greve no país e evitou dizer se é contra ou a favor de paralisações em setores essenciais.

- Vamos ter que regular o direito de greve neste país. Há maturidade no movimento sindical para que a gente tenha a regulamentação do direito de greve, inclusive para a gente cuidar, com carinho especial, dos setores essenciais - desconversou Lula, em entrevista à TV Record.

Mas, em seguida, ele surpreendeu com a resposta:

- Como dirigente sindical, acho que as greves têm que ser feitas de forma diferente. Um trabalhador que trabalha no metrô, ele não precisa parar a greve, ele pode abrir as catracas para o povo andar de graça!

Sobre a tentativa de compra do dossiê contra tucanos por petistas, Lula disse esperar que a CPI dos Sanguessugas não dê conotação político-eleitoral e não faça show ou pirotecnia com as investigações. Esta semana, a CPI convocou vários petistas para depor, como o ex-presidente do partido Ricardo Berzoini, e determinou a quebra de sigilo bancário de petistas como o ex-assessor da Presidência Freud Godoy.

Lula repetiu o discurso de que é preciso apurar com seriedade e sem preocupação com o tempo da investigação. Ele ainda disse que seu papel não é "perdoar ou acusar" os envolvidos.

- Se as pessoas estiverem investigando com seriedade e tiverem as informações que a sociedade brasileira precisa saber, ótimo. Se as pessoas estiverem fazendo pirotecnia por conta do processo eleitoral, quem perde é quem faz o show. A minha preocupação é que a CPI, como em outras vezes, procure fazer um show em vez de fazer uma investigação. O que me interessa é o resultado final: quem errou, paga. Uma coisa é o Congresso tentar me atacar, me acusar, me xingar. Outra coisa são as coisas de interesse do Brasil. É isso que quero deles: seriedade com o Brasil -- disse Lula.

"Até já me penitenciei por não ter ido aos debates"

Além de criticar os parlamentares da CPI, Lula admitiu "salto alto" de sua campanha e atacou os ex-petistas e ex-candidatos Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), afirmando que não compareceu a debates no primeiro turno por causa deles:

- Até já me penitenciei por não ter ido aos debates (...) e depois ia nos debates com duas pessoas de um lado, ressentidas comigo por causa do PT. Possivelmente eu tenha perdido por não ter ido ao debate.

Lula disse ainda que não faz terrorismo eleitoral ao dizer que o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, vai retomar o processo das privatizações.

- Não invento as coisas. A história do PSDB é um processo de privatização sistemático. Qual é a garantia que ele oferece para a sociedade de que não vai privatizar? Você pega programa de partidos aliados a ele que dizem que tem que privatizar a Petrobras. Então, ele que tem que se explicar.

No caso da sua promessa de geração de empregos, Lula "inflou" as estatísticas oficiais, somando empregos formais (4,6 milhões) e informais.

- Assumi no programa de 2002 que o Brasil precisava criar 10 milhões de empregos. Se você pegar os dados, vai perceber que já criamos 7,6 milhões. Não tem meta a perseguir. O que tem é um compromisso de fazer a economia brasileira crescer. E não há terremoto, intempérie ou crise externa que faça o Brasil crescer abaixo de 5% - disse.

Promessa de tirar 14 milhões de famílias da miséria

Otimista, Lula disse que "dorme tranqüilo" com o que fez para combate a fome e prometeu tirar mais 14 milhões de famílias da miséria:

- Quem já resolveu (a fome) de 11 milhões de famílias, pode resolver mais de um pouco de famílias.