Título: TRAINEIRA ESTARIA NA CONTRAMÃO
Autor: Taís Mendes
Fonte: O Globo, 19/10/2006, Rio, p. 16

Marinha suspeita de falha humana, já que barco cruzava o caminho do cargueiro

A Marinha investiga a possibilidade de o acidente de anteontem à noite na Baía de Guanabara entre o cargueiro Roko e a traineira Costa Azul - que provocou a morte de cinco pessoas e o desaparecimento de outras três - ter sido causado por falha humana. Regras internacionais de navegação estabelecem que embarcações com comprimento inferior a 20 metros não devem atrapalhar a passagem dos navios que seguem por canais ou vias de acesso. O Roko, de bandeira das Bahamas, tem 180 metros e navegava no canal de entrada e saída da baía quando colidiu contra o Costa Azul, de 15 metros. A embarcação menor tinha 12 pessoas a bordo: nove mergulhadores, dois marinheiros e o comandante. Quatro mergulhadores sobreviveram. A Marinha abriu um inquérito, que deve ser concluído em até 90 dias. Nem o cargueiro nem sua tripulação podem deixar o país antes do fim dos depoimentos.

O Costa Azul foi atingido no meio pela proa do Roko, naufragou e foi parar a 37 metros de profundidade. O ponto do naufrágio foi localizado às 10h. O capitão dos Portos, o capitão-de-mar-e-guerra Antônio Fernando Monteiro Dias, descartou a possibilidade de falha em equipamentos:

- Oitenta por cento dos acidentes marítimos acontecem por falha humana. Já temos muitas informações sobre o acidente, como a rota feita pelo barco e pelo navio. Temos boa noção do que aconteceu, mas só divulgaremos após a conclusão das investigações. Mas podemos adiantar que a legislação internacional tem uma regra básica: quem avista uma embarcação pela direita (no caso, a traineira) tem a obrigação de manobrar.

Doze embarcações da Marinha e do Corpo de Bombeiros e 320 homens, sendo 30 mergulhadores, participaram das buscas ontem. A baixa visibilidade e a forte correnteza dificultaram os trabalhos. Segundo a Marinha, a traineira afundou de lado.

Prático prestará depoimento hoje

Os quatro sobreviventes - Eduardo da Silva Pinto, Thiago Batista Barros, Eliezer Chaves de Oliveira e André Luiz Loenzethdo - prestaram depoimento na Capitania dos Portos, bem como o comandante do cargueiro, Vladimirs Gruserviskis, e o timoneiro do navio. A Marinha pretende ouvir hoje o prático Expedicto Damasco, que ajudava o comandante. Pela lei, navios de bandeira estrangeira precisam contratar esse profissional, que sabe onde há pedras e correntes, por exemplo, para auxiliar nas manobras de aproximação nas imediações de portos e em baías.

À tarde, mergulhadores localizaram e resgataram o corpo do mestre-arrais no casario do Costa Azul. No início da noite, foram avistadas outras vítimas dentro dos destroços, mas a Marinha não soube afirmar se todos os desaparecidos estavam dentro da embarcação, num compartimento de difícil acesso. Até as 23h30m, outros quatro corpos foram resgatados.

Cargueiro frigorífico, o Roko saíra de Itajaí (SC) e entrara na baía para abastecer antes de seguir para a Ucrânia. Por volta das 23h, a 1,5km da Ponte Rio-Niterói, o navio colidiu com o Costa Azul, de Santa Catarina, a serviço da empresa Tecsub, de Santos, que atua nas obras do emissário da Barra. Segundo a Capitania dos Portos, o choque foi tão violento que havia pedaços do barco na âncora do cargueiro. Os ocupantes do Costa Azul tinham saído do Caju rumo a Jurujuba, em Niterói, onde passariam a noite antes de seguir para a Barra. Segundo o mergulhador da Tecsub Márcio Irineu, colega das vítimas, andar de barco pela baía à noite fazia parte da rotina do grupo. Ele explicou que os barcos costumam se abastecer de equipamentos e outros materiais no Caju e seguem para Jurujuba. Márcio integrava a equipe que foi rendida semana passada pela que estava no barco na noite do acidente. O dono da Tecsub, Ismar Medeiros, veio de Santos para acompanhar as buscas.

COLABORARAM Cristiane de Cássia, Isabela Bastos e Maria Elisa Alves

'Bruxa' à solta no ar e no mar

Sucessão de acidentes intriga. Outras baías do mundo têm movimento muito maior

Em pouco menos de três semanas, uma série de acidentes no Brasil provocou tragédias e sustos. A sucessão de desastres começou com o pior deles, a queda de um Boeing da Gol, após colidir com um jatinho Legacy, sobre a Amazônia, em 29 de setembro. O acidente no vôo 1907 (Manaus-Rio) matou 154 pessoas. Uma semana depois, em 6 de outubro, outro avião da Gol, que fazia o vôo 1941, na rota Cuiabá-São Paulo, derrapou na pista do Aeroporto de Congonhas, interrompendo as operações de pouso e decolagem por uma hora. Os 122 passageiros e seis tripulantes saíram ilesos.

No sábado passado, um bimotor Seneca que decolara do Rio rumo a Porto Seguro (BA) caiu no litoral do Espírito Santo. Numa praia capixaba, foram achados destroços da aeronave e os corpos de três dos seis ocupantes do avião.

No domingo, um acidente no Campo dos Afonsos, durante um show aéreo em comemoração aos cem anos do vôo do 14-Bis de Santos Dumont, matou uma menina de 9 anos e feriu outras nove pessoas. O acidente no Museu Aeroespacial ocorreu quando um avião do Corpo de Bombeiros, usado para combater incêndios, deu vôos rasantes sobre o público, jogando água para aliviar o calor.

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