Título: REMESSAS FEITAS POR LATINOS QUE TRABALHAM NOS EUA AUMENTAM 50%
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 19/10/2006, Economia, p. 26

Valor deve chegar a US$45 bi, com mais imigrantes enviando dinheiro

WASHINGTON. As remessas de dinheiro feitas pelos imigrantes latino-americanos que trabalham legal ou ilegalmente nos Estados Unidos para seus familiares em seus países de origem deram um salto de 50% nos últimos dois anos. De US$30 bilhões remetidos em 2004, o total deverá atingir US$45 bilhões este ano. Não só aumentou - de 61% para 73% - o número de pessoas que enviam parte de seu salário às famílias, como também cresceu o volume enviado por cada uma delas: a média passou de US$240 para US$300 por remessa.

O Brasil, que dois anos atrás recebeu US$5,8 bilhões, e mais US$6,4 bilhões em 2005, este ano está recebendo uma injeção de US$7 bilhões - segundo estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

"As remessas constituem um dos programas de alívio da pobreza mais amplos e efetivos do mundo. Só na América Latina cerca de 20 milhões de lares recebem essas transferências", diz um trecho do documento divulgado ontem pelo presidente do BID, Luis Alberto Moreno.

Embora tenha ressaltado os aspectos positivos de tal fluxo de dinheiro vivo - trata-se, afinal, de uma aplicação direta, e não de empréstimo - ele também reconheceu que este fenômeno pode ser uma tradução do fracasso das políticas econômicas da América Latina:

- Isso mostra que a nossa região não está criando um número suficiente de bons empregos.

Moreno destacou que, embora as remessas ajudem a aliviar a pobreza, o êxodo constante de mão-de-obra representa "um custo imenso" para os países:

- Sem contar que o dinheiro que os latino-americanos, em geral, enviam para suas contas no exterior é maior do que a quantia que os países recebem dos seus trabalhadores que vieram buscar emprego nos Estados Unidos.

Imigrantes querem abrir negócios em seus países

O estudo realizado pelo BID contém um dado curioso: a maioria dos imigrantes que envia dinheiro às famílias, e que ao mesmo tempo remete volumes mais altos, é formada por pessoas que acham que estão indo bem economicamente nos EUA, muito embora sejam consideradas pobres - ou de classe média baixa - pelos americanos.

Outro fator que se destaca é que, em contraste com os levantamentos anteriores, existe agora um número crescente de imigrantes considerando investir na América Latina - e não apenas enviar dinheiro para que suas famílias possam comer melhor ou estudar.

- Possuir um imóvel e abrir um pequeno negócio em seu país são as duas metas mais comuns - disse Sergio Bendixen, da Bendixen & Associates, que realizou o estudo encomendado pelo BID.

Outro aspecto que chama a atenção é a constatação de que os imigrantes latino-americanos têm um papel vital em vários setores da economia americana. Eles compõem, por exemplo, 23% dos trabalhadores das indústrias de manufaturas e 20% da indústria de serviços. Os 17,2 milhões de adultos latino-americanos faturam nada menos do que meio bilhão de dólares anuais, dos quais pouco mais de 90% são gastos nos EUA. O restante é enviado aos seus familiares.

- Eles contribuem, ainda, com US$150 bilhões aos cofres do Tesouro americano com os impostos que pagam aqui - disse Bendixen.

A participação desses trabalhadores na economia dos EUA, inclusive os que vivem ilegalmente, pode ser medida também pelo índice das remessas que eles fazem a seus parentes. Elas são equivalentes a 10% do seu salário. Portanto, a Califórnia - de onde sai a maior fatia das remessas, US$13,2 bilhões - ganha este ano US$119 bilhões com esses trabalhadores, em termos de recursos que eles gastam na economia local.

Salário é seis vezes maior que o do país de origem

Com relação à outra ponta do fenômeno - ou seja, a origem dessa mão-de-obra - o estudo mostra um aspecto significativo: mais da metade dos que fazem remessas não tinha emprego ao sair de seus países rumo aos EUA; e os que tinham trabalho ganhavam pouco.

Mais da metade deles encontrou trabalho nos EUA em menos de um mês, sendo que 38% obtiveram uma colocação em menos de duas semanas. E o seu salário médio passou a ser de US$900 mensais, seis vezes mais do que ganhavam em seus países de origem.

INCLUI QUADRO: SAIBA MAIS SOBRE AS TRANSFERÊNCIAS