Título: CONSUMIDOR LIMPA O NOME PARA GASTAR
Autor: Ana Cecília Santos/Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 19/10/2006, Economia, p. 27

De olho na inadimplência alta, financeiras e bancos estão antecipando renegociação de dívidas

Com os índices de inadimplência em alta, bancos e financeiras estão intensificando e até antecipando suas campanhas de recuperação de crédito, que tradicionalmente começam apenas no fim do ano.

O vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi), José Arthur Assunção, diz que, nos últimos quatro meses, o índice de inadimplência se mantém muito alto, na faixa dos 20%. Segundo ele, o calote faz com que as financeiras busquem a renegociação:

- Esperamos uma recuperação do crédito da ordem de 30%. Para isso, é preciso adequar a dívida à situação do cliente.

Ele espera que, com o recebimento do décimo terceiro, seja possível ao consumidor regularizar seus pagamentos.

Miguel José Ribeiro de Oliveira, economista da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que, com o aumento na inadimplência, as instituições ficam mais flexíveis e, portanto, esta é a hora de negociar:

- A inadimplência reflete negativamente no balanço. Por isso, as instituições ficam mais maleáveis.

Inadimplência pessoa física subiu 13% em relação a 2005

Segundo o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida, o elevado endividamento da população mantém a inadimplência dos consumidores em patamares superiores a 2005. De janeiro a setembro deste ano, a inadimplência de pessoa física subiu 13% em relação ao mesmo período do ano passado.

Mas Almeida afirma que a menor velocidade na expansão do crédito nos últimos meses mostra que boa parte dos consumidores está dando prioridade ao pagamento de dívidas:

- Isso ocorre porque os clientes têm planos de voltar a consumir no fim do ano.

O alongamento da dívida, o desconto para quitações à vista e o abatimento nas taxas de juros e nas multas são os principais mecanismos usados pelas instituições na recuperação do crédito dos consumidores.

A Losango está oferecendo aos inadimplentes descontos progressivos no principal da dívida, que podem chegar a 50%, além de ampliação do parcelamento dos débitos de 10 para 12 parcelas e abatimento dos encargos. Com as medidas, a financeira, que tem 3,5 milhões de devedores, espera fechar acordo com cerca de 350 mil até o Natal, recuperando R$40 milhões.

Segundo o diretor de cobrança da Losango, Leonardo Santanda, entre agosto e setembro, a financeira registrou aumento de 10% a 12% de clientes que buscam regularizar a sua situação:

- A maior parte dos clientes, 60%, optaram por renegociar a dívida, enquanto os outros 40% quitaram seus débitos.

Anteontem a dona-de-casa Efigênia Pereira foi ao Centro do Rio quitar dívidas de cerca de R$5 mil junto a duas financeiras. A intenção era limpar o nome para voltar a consumir no Natal deste ano:

- Tenho cinco filhos, oito netos e seis bisnetos. No último Natal eu estava afogada em dívidas e ninguém ganhou presente. Mas, daqui a cinco dias, meu nome sairá do SPC e poderei, enfim, respirar aliviada.

O Banco do Brasil também está preparado para oferecer condições especiais aos devedores. Segundo Denilson Gonçalves Molina, gerente executivo de Empréstimos e Financiamentos do BB, o caminho mais simples é optar pela renovação da operação de crédito, ampliando o prazo de pagamento e reduzindo o valor da prestação. O banco oferece também consolidar em um único pacote as dívidas com cheque especial e cartão de crédito. Mas só para quem não está inadimplente.

- Estamos refinanciando de 24 a 36 meses, com uma taxa de juros mensal entre 4,40% e 4,69%, bem atraente se comparada à do cheque especial, em torno de 7,80%.

O Banco do Brasil espera um aumento de 30% na busca pela recuperação do crédito.

Já a ASB Financeira oferece propostas de renegociação de dívidas com descontos de 100% dos juros e multas. Analisando caso a caso, a empresa também oferece descontos no valor principal da dívida que podem chegar a 55% para dívidas com mais de 1.081 dias de atraso.

Gilberto Catran, diretor da Associação das Empresas Lojistas em Shopping Centers do Estado do Rio de Janeiro (Aloserj), espera que a recuperação do crédito reverta a queda nas vendas em shoppings centers, que chegaram a 7% na medição da terceira quadrissemana do mês, em comparação ao mesmo período do ano passado, que também teve vendas fracas - cerca de 3% menores que em 2004:

- A queda nas vendas é, em parte, resultado do comprometimento da renda com empréstimos consignados. Esperamos que a situação se modifique até o Natal.

RESOLVE AS PENDÊNCIAS

INTERMEDIAÇÃO: O consumidor não deve aceitar intermediação de terceiros na negociação do débito. É bom ir diretamente ao credor, já que as firmas de cobrança, em geral, cobram um percentual do valor negociado.

PROPOSTA: Quem deve comandar a negociação é o cliente, por isso, o melhor é não aceitar logo a primeira proposta feita pela instituição. Normalmente, quem insiste obtém mais vantagens.

VALOR ORIGINAL: Para se basear no que é um bom negócio, o consumidor deve ter em mente o valor original da dívida e não o apresentado pelo banco/financeira como sendo o débito, que costuma incluir juros e encargos.

DÉCIMO TERCEIRO: A melhor opção é sempre quitar o débito integralmente. Por isso, os especialistas orientam a usar o dinheiro do décimo terceiro no pagamento. Com dinheiro na mão é possível, ainda, obter descontos.

PESQUISA: O consumidor que está com dificuldade de pagar a dívida deve pesquisar a instituição que oferece a menor taxa de juros, já que é possível negociar a transferência do débito para outro banco ou financeira.

DOCUMENTO: Após resolver a pendência, o cliente deve obter um documento que permita limpar o nome no SPC/Serasa.