Título: MANTEGA DEFENDE DESENVOLVIMENTISMO
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 21/10/2006, O País, p. 11

Ministro articula permanência no cargo e fala em flexibilização monetária

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu ontem que um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja marcado por uma política desenvolvimentista mais clara. Durante encontro com 24 economistas e intelectuais, no Rio, ele afirmou que a responsabilidade fiscal deveria ser mantida, mas não aprofundada, e a política monetária flexibilizada, tendo em vista que a inflação está sob controle. Criticou ainda o que chamou de proposta "ortodoxa" da candidatura "conservadora" do PSDB.

¿ Vamos manter o superávit primário, diminuir a relação dívida/PIB, mas de maneira desenvolvimentista, que é diferente da ortodoxa, que é fazer corte de 3% em cima de outros cortes ¿ disse, numa alusão à proposta de aprofundamento do ajuste fiscal defendida pelo assessor econômico do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, Yoshiaki Nakano.

Crescimento não deve chegar a 4% em 2006

Mantega admitiu pela primeira vez que a economia pode não crescer 4% este ano. Indicadores de comércio, inadimplência e emprego confirmam que, no segundo semestre, a economia está crescendo num ritmo superior a 4%, mas o resultado final pode ser menor, disse.

O almoço no restaurante Osteria Dell¿Angolo, na Zona Sul, com 24 pessoas que apóiam o candidato do PT no segundo turno, também foi marcado por manifestações a favor da permanência dele no cargo num eventual segundo mandato de Lula. Entre eles, o da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Maria da Conceição Tavares.

¿ Espero em Deus que ele continue ministro da Fazenda ¿ disse ela.

A professora reclamou, ainda, de esta ter sido a primeira vez que um ministro de Lula quis ouvir a opinião de "cariocas de respeito".

¿ É sempre o paulistério. E o paulistério não se entende, com desenvolvimentistas e ortodoxos, quando não é as duas coisas e fica esquizofrênico, como foi o caso do pobre japonês ¿ disse ela, referindo-se a Nakano.

Segundo Mantega, a responsabilidade fiscal veio para ficar, mas não precisa ser aprofundada porque o governo já vem realizando superávits primários há quatro anos e renunciando a gastos equivalentes a R$90 bilhões.

¿ Significaria desequilibrar o modelo desenvolvimentista, que combina responsabilidade fiscal com programas sociais ¿ acrescentou.

O encontro realizado no mesmo restaurante onde em 2002 Lula degustou o vinho francês Romanée Conti ¿ safra de 1997, que custava R$6.900, presenteado pelo Publicitário Duda Mendonça ¿, durou cerca de quatro horas e custou entre R$60 e R$80 para cada um dos presentes.

Críticas à atual política econômica do governo

Para Mantega, o segundo turno está tornando as propostas mais claras:

¿ Os campos estão se delimitando. O conservador, do candidato Alckmin, e o desenvolvimentista, do Lula.

Citou como exemplo de política ortodoxa as privatizações.

¿ Quando a gente diz que um quer privatizar tudo, privatizar a Petrobras, é porque quer o Estado mínimo. Ele (Alckmin) acha que pouco importa uma empresa como a Petrobras ficar nas mãos do governo ou da iniciativa privada. Nós, não ¿ acrescentou, dizendo que é fundamental manter a Petrobras como instrumento do desenvolvimento.

O ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa reclamou da atual política econômica, para ele ortodoxa e inibidora do crescimento. Pinguelli defende a diminuição do superávit primário para que sobrem mais recursos para investimentos, por exemplo, na geração de energia elétrica. Para ele, a reorientação do gasto público possibilitaria resolver gargalos de infra-estrutura. O reitor da UFRJ e um dos organizadores do encontro, Aloísio Teixeira, também defendeu superávits menores. A seu ver, o governo vem sendo excessivamente tímido na condução da política maeconômica, especialmente nas políticas monetária e fiscal.