Título: EMBRAER: JATO LEGACY PASSOU POR SETE TESTES
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 21/10/2006, O País, p. 17
Nenhum defeito nos equipamentos de segurança foi detectado na aeronave antes de ela ser entregue à Excel Aire
BRASÍLIA. A Embraer informou ontem que o jato Legacy 600 foi entregue à empresa de táxi aéreo americana Excel Aire em perfeitas condições, no dia em que a aeronave se chocou com o Boeing da Gol. Em depoimento à Polícia Federal, o diretor do Departamento de Ensaios da Embraer, Sérgio Mauro Costa, revelou que, antes da compra ser fechada, o Legacy passou por sete testes, que não apontaram nenhum defeito nos equipamentos de segurança. Três deles, segundo Costa, foram feitos na presença de representantes da Excel Aire. Não se sabe se, entre eles, estavam os pilotos do jato.
As primeiras análises da caixa-preta do Legacy, realizada no Canadá, comprovam que o transponder do jato ¿ equipamento que emite sinais do avião para os radares em solo ¿ estava inoperante no momento da colisão entre os dois aviões, segundo informou o ministro da Defesa, Waldir Pires. Ainda não se sabe, no entanto, se o equipamento apresentou alguma falha ou se foi desligado durante o vôo. As informações prestadas pelo diretor da Embraer reforçam a segunda hipótese, embora não a confirme.
Pilotos receberam em mãos o plano de vôo
Ainda não se sabe, no entanto, porque outro equipamento de segurança, o Tcas, não evitou o acidente. O Tcas é um sistema anti-colisão, presente no Legacy, que acusa com uma distância segura a presença de uma outra aeronave na mesma altitude e se deslocando na direção contrária.
No depoimento, o diretor da Embraer informou que os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Palladino receberam em mãos o plano de vôo do Legacy. Segundo ele, o documento foi entregue por uma empresa terceirizada pela Embraer, cujo nome não revelou. O plano de vôo também foi enviado eletronicamente para o centro de controle aéreo (Cindacta) de São José Campos, de onde a aeronave partiu.
O plano de vôo previa que o Legacy voaria a 37 mil pés até Brasília, quando deveria descer para 36 mil pés até o ponto cartográfico Teres, de onde subiria para 38 mil pés. Se o piloto seguisse o plano, teria evitado o choque com o Boeing, que vinha de Manaus.
O delegado federal Renato Sayão, que conduz o inquérito, vai concentrar esforços agora na tentativa de decifrar as comunicações feitas entre o Legacy e os controladores de vôo. O objetivo é descobrir se o jato obteve autorização ou não para alterar o plano de vôo. Para isso, prestarão depoimento os oito controladores que estavam de plantão no momento do acidente.
O diretor da Embraer entregou ao delegado os manuais do Legacy e os documentos que comprovariam que ele foi entregue em perfeitas condições. Sayão entregará à Justiça Federal, até o dia 5 de novembro, um relatório preliminar das investigações.