Título: URIBE ROMPE DIÁLOGO COM FARC
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Fonte: O Globo, 21/10/2006, O Mundo, p. 43

Após atentado, presidente diz que resgate militar é o único caminho para libertar 62 reféns

BOGOTÁ

Numa dura resposta ao atentado com um carro-bomba na quinta-feira na Escola Superior de Guerra, na capital Bogotá, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, responsabilizou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pelo ataque e suspendeu as negociações para a libertação de 62 reféns em poder da guerrilha, afirmando que o único caminho agora é um resgate militar. O discurso indica uma mudança de rumo no governo, que até então procurava negociar a troca dos seqüestrados por meio do Alto Comissariado para a Paz.

¿ Foi um ataque covarde. Não podemos mais continuar com a farsa do intercâmbio humanitário, como pregam as Farc. Não teremos mais boa vontade. Conseqüentemente, o único caminho para a questão agora é realizarmos um resgate militar ¿ disse o presidente aos militares da Escola Superior de Guerra, onde a explosão do carro-bomba deixou 25 feridos, alguns em estado grave.

Pouco antes do discurso, Uribe suspendeu a autorização que tinha dado para que delegados do Alto Comissariado de Paz e das Farc se reunissem para negociar a troca dos reféns por 500 rebeldes da guerrilha detidos em prisões do país. Entre os seqüestrados estão soldados, policiais, empresários, deputados e a ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt, que também tem cidadania francesa e que está em cativeiro desde 2002. Alguns políticos e empresários, no entanto, estão presos desde 1999. Além dos 62 reféns, autoridades estimam que outras dezenas de cidadãos comuns estejam em mãos da guerrilha que, neste caso, cobra resgate dos familiares.

¿ Trata-se de um endurecimento que deve resultar em vários confrontos daqui para a frente. Não acredito que as Farc vão ceder e a vida dos seqüestrados está em risco. Não se pode anunciar um resgate militar dessa forma. Operações militares existem para serem postas em prática e não para serem divulgadas ¿ disse o especialista em segurança interna da Universidade de Bogotá Ismael Lozano.

A decisão de Uribe fez a mãe de Ingrid Betancourt dizer que o presidente lavrou ontem a sentença de morte de sua filha.

¿ Não se pode fazer isso. É uma postura irresponsável e passional. Não há como libertar os reféns sem negociação. Essa é a sentença de morte para todos os seqüestrados, inclusive minha filha ¿ disse Yolanda Pulecio.

As Farc, que costumam assumir seus ataques, negaram ontem que tenham participação no atentado na Escola Superior de Guerra e disseram em nota que a explosão do carro-bomba foi organizada por forças que querem desestabilizar as negociações de paz com o governo, entre elas os Estados Unidos.

¿Temos certeza de que há forças políticas, e a influência americana, por trás do atentado. O objetivo é desestabilizar as negociações com o governo e promover uma nova onda de violência¿ disse a guerrilha em nota.

O carro-bomba explodiu dentro do maior e mais importante complexo militar da Colômbia, num estacionamento reservado para o Alto Comando, em frente ao prédio da Escola Superior de Guerra, onde se formam os generais das Forças Armadas, e a poucos metros da sede dos serviços de inteligência. O carro, um modelo utilitário da Ford, estava carregado com 60 quilos de explosivos e foi detonado por controle remoto às 8h30m (horário local). Entre os feridos estão alunos da Escola Superior e políticos que participariam de um evento no complexo. O vice-ministro da Defesa só não foi uma das vítimas porque chegou atrasado ao complexo.

Presidente irrita governos vizinhos

Além de provocar reações por causa do endurecimento com as Farc, Uribe irritou os governos do Equador e da Venezuela ao afirmar que guerrilheiros se escondem nos dois países, sem o consentimento dos governos.

¿ Sabemos que muitos integrantes das Farc estão escondidos na selva venezuelana e no Equador, sem o consentimento dos dois governos. Esse é um problema que também precisa ser discutido ¿ afirmou.

O governo de Quito reagiu afirmando em nota que ¿é inadmissível este tipo de afirmação sem a apresentação de provas por parte do governo colombiano¿. O Gabinete do presidente venezuelano, Hugo Chávez, também afirmou em nota que a acusação é ¿infundada e irresponsável¿.

Uribe reagiu aos comentários dos dois países dizendo que ¿somente um esforço conjunto poderá fazer frente ao terrorismo no continente, que já é transnacional¿.

¿ Quando afirmei que existem guerrilheiros na Venezuela e no Equador, fiz um alerta para que o ataque em Bogotá não se repita no futuro em Quito e em Caracas ¿ retrucou.

Enquanto as relações com as Farc se deterioram, o governo deu mais um passo ontem para firmar um acordo de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), com a realização em Cuba da quarta reunião com membros do grupo em menos de um ano.

¿ Estamos o perto de um acordo de paz ¿ disse o representante do governo, Luis Carlos Restrepo.