Título: GOVERNO E OPOSIÇÃO TERÃO DE CONVERSAR¿
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 22/10/2006, O País, p. 3

Tarso Genro diz acreditar no diálogo e afirma que Planalto não faz terrorismo

Eleito porta-voz da campanha do presidente Lula para atacar o adversário, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, nega que o PT esteja promovendo ¿terrorismo psicológico¿ quando afirma que o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, vai privatizar empresas. Tarso diz que o presidente eleito no segundo turno sairá mais legitimado do processo e repete o discurso de Lula e da campanha de que não está havendo protelação na investigação do escândalo da tentativa de compra do dossiê contra tucanos. Ao comentar uma eventual vitória de Lula, diz acreditar num diálogo com a oposição e que Alckmin, se derrotado, ¿não vai tentar desestabilizar o governo¿. Para ele, o fato de Lula não poder ser mais eleito vai facilitar o diálogo com a oposição.

Com o acirramento na campanha, que relação o governo pode ter com a oposição se o presidente Lula for reeleito?

TARSO GENRO: Um regime democrático tem condições de absorver esses momentos mais conflituosos. Tenho convicção de que, seja quem for o vencedor, e acho que será o Lula, oposição e governo têm de conversar sobriamente sobre o futuro do país, particularmente sobre reforma política e do processo de Orçamento. O presidente não será mais candidato à reeleição e isso facilita o diálogo. Os governadores terão grande papel.

O senhor comparou Alckmin ao ex-ditador chileno Pinochet. A oposição, caso o presidente vença, será ferrenha?

TARSO: Acho que foi um espasmo político autoritário que veio da sua formação ideológica. Mas não creio que Alckmin vá, depois das eleições, tentar desestabilizar o processo político.

Com o avanço das investigações sobre o dossiê, como isso perpassará o processo político?

TARSO: E nem deve terminar antes que os culpados sejam indiciados, julgados e, se provada sua conduta ilegal, punidos. As investigações sobre os vampiros, sanguessugas, devem continuar. E o Estado deve ¿ajudar¿ impiedosamente para que tudo seja esclarecido, bata em quem bater. Isso só é bom para o país. Porque ninguém tem um atestado de pureza prévia. Sempre me rebelei contra a visão de que o PT era um partido de puros e imaculados. Qualquer partido reproduz o seu meio e as deformidades que têm no exterior. Mas todo esse processo que ocorreu nesses quatro anos não é ruim, porque bateu indistintamente em todos os partidos, as instituições funcionaram regularmente e há, pela primeira vez, um combate à corrupção sistêmica no país.

Com a tática de martelar a ameaça de privatização, como a da Petrobras, acusam o PT de reviver o terrorismo eleitoral do qual Lula foi vítima em 89 e em 2002.

TARSO: O terrorismo psicológico sempre se evidencia, se realiza com a ameaça de um mal. No que se refere às privatizações, não se trata de ameaça de um mal, se trata de evidenciar uma posição programática dos candidatos.

A oposição ficou acuada?

TARSO: A oposição vive uma contradição tão grave como o PT viveu por um certo tempo. O PT é majoritariamente um praticante e defensor da ética pública. Conheço dezenas de governos do PT que atestam isso. Mas várias pessoas do PT tiveram condutas ilegais e posturas não republicanas. Isso colocou o PT, como totalidade, na defensiva num certo período. Faz parte do jogo democrático. Agora isso está acontecendo com os tucanos. Eles tiveram prática radicalmente privatista, queimaram ativos públicos de maneira irresponsável. Agora, não querem assumir a responsabilidade política.

O que acontece com o PT depois disso?

TARSO: O PT tem que ser reconstruído, refundado. Porque o PT trouxe para sua cultura política métodos de direção e costumes dos partidos tradicionais, inaceitáveis para nossa militância. O partido não é uma delegacia de polícia. As condutas ilegais têm que ser apuradas e, se provadas, punidas.

Sobre o dossiê, o presidente tem se mantido informado?

TARSO: Quem informa, dentro dos rigores das responsabilidades de cada um, é o ministro da Justiça. E o presidente pede informações e evidentemente diz que quer os resultados o mais rápido possível. Porque o presidente tem consciência de que esses eventos só favorecem seu adversário, e, de outra parte, porque é uma ilegalidade. Agora, nem o presidente nem o ministro Márcio têm o poder de apressar ou retardar. Seria muito melhor para o governo se isso tivesse sido resolvido na primeira semana. Lamentavelmente, não ocorreu.