Título: LULA JÁ COMEÇA A AGIR PARA ESVAZIAR PODER PAULISTA NO CASO DE 2º MANDATO
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 22/10/2006, O País, p. 4

Presidente cria `conselho político¿ com aliados que têm votos e mandato

BRASÍLIA. Antes mesmo de acabar o segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu, caso reeleito, mudar a estrutura de poder do governo e interferir no comando do PT para nacionalizar o partido. Lula considera fundamental que haja uma incorporação na nova geopolítica do poder de líderes que saíram legitimados das urnas. Em outras palavras: o presidente está disposto a interferir pessoalmente para esvaziar o poder do núcleo paulista tanto no PT como em seu governo.

A mudança começou neste mês e será mais significativa, na política palaciana, que a reforma ministerial do segundo mandato. Informalmente, Lula criou uma espécie de conselho político para o próximo mandato, e já deu missões para os ¿novos conselheiros¿, como pacificar a relação com setores da oposição. Lula se afastou dos paulistas, aos quais atribui responsabilidade pelas principais crises do governo. O presidente quer arejar o governo e o PT.

Os novos conselheiros informais são os governadores eleitos Jaques Wagner (BA) e Marcelo Déda (SE), o governador do Acre, Jorge Viana, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Além deles, Lula continuará ouvindo o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, de quem se aproximou no período eleitoral. Lula quer que esses cinco petistas passem a ter influência maior no PT.

E já avisou que, independentemente do resultado da eleição, será necessário um encontro extraordinário do PT para alterar a relação de forças internas. Mas os petistas reconhecem que não será tarefa simples a troca de comando partidário.

¿ Não podemos simplesmente fazer um discurso anti-hegemônico do comando político de São Paulo no PT. Somos contra os caminhos a que a burocracia paulista levou o PT. Os militantes já começam a pensar na necessidade de mudanças no partido ¿ diz Jorge Viana.

Em conversas reservadas, Lula se mostra convencido que os principais problemas do seu governo foram de responsabilidade dos petistas do núcleo de São Paulo, entre eles os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, os ex-presidentes da legenda José Genoino e Ricardo Berzoini, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, além do ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral Silvio Pereira.

¿ Precisamos transformar o PT num partido de massas. Assim, devem ter mais poder os que têm voto e mandato. A burocracia do partido perde força ¿ observa Fernando Pimentel.

Marcelo Déda: ¿O PT tem que incorporar sotaques¿

No Planalto, o evento é chamado de ¿nacionalização do PT¿. O grupo formado por Wagner, Déda, Pimentel, Viana e Tarso teve até agora papel periférico, mas Lula já percebeu a necessidade de novos interlocutores, diz um assessor palaciano.

¿ Temos que fazer uma autocrítica severa e tomar uma decisão de reciclagem e de refundação do partido, que não seja retórica. Temos que superar a radicalização entre as tendências e a prática antropofágica. O PT tem que incorporar sotaques. Não se trata de demonizar São Paulo, mas de reequilibrar o poder no partido ¿ diz Déda.

Para a presidência do partido, dois nomes têm a simpatia de Lula: Tarso e Viana. Se Tarso for para o comando do PT, Lula pode levar Viana para cuidar da articulação política do Planalto.