Título: TUCANO RECORRE ÀS AGULHAS DE JOU EEL JIA PARA ALIVIAR O ESTRESSE DOS DEBATES
Autor:
Fonte: O Globo, 22/10/2006, O País, p. 10

SÃO PAULO. Já virou rotina na vida de candidato do tucano Geraldo Alckmin recorrer à acupuntura para ¿buscar o equilíbrio¿ antes de enfrentar debates na TV, ainda mais se for para enfrentar o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Foi assim nas últimas vezes em que estiveram frente a frente, na Bandeirantes e no SBT. Para ajudá-lo a relaxar, entra em cena o médico chinês Jou Eel Jia, radicado no Brasil desde os anos 70, especialista em medicina tradicional chinesa.

Horas antes do último debate, na quinta-feira, o doutor Jou, como é chamado por Alckmin há oito anos, deixou a clínica que tem nos arredores do Parque Ibirapuera, Zona Sul de São Paulo, e seguiu para o apartamento do candidato, no Morumbi. Deitado numa cama de casal, sem camisa, Alckmin se entregou à técnica à qual recorre desde quando era vice-governador de São Paulo, no fim dos anos 90. Em véspera de debate, o ritual é sempre o mesmo: as agulhas são aplicadas nas costas, para combater o estresse a partir da liberação de serotonina, hormônio responsável pelo humor. Para controlar a ansiedade, Jou se concentra em braços e pernas.

¿ No caso do Alckmin, a acupuntura ajuda muito, ainda mais em situações de confronto. Ele é bastante controlado, então as agulhas o ajudam a relaxar ¿ explica o médico. ¿ É um paciente disciplinado, que espera a sua hora ¿ diz, lembrando que o tucano nunca pediu para furar a fila na clínica.

Para driblar o estresse de campanha, diz doutor Jou, Alckmin recorre ainda à fitoterapia, técnica que utiliza as plantas para curar doenças, e também o que chama de ¿dietoterapia¿, com refeições balanceadas. Em relação à dieta, o candidato tem deixado a desejar. O médico cita o mal-estar de Alckmin na Paraíba:

¿ A tensão e o corre-corre da campanha acabam comprometendo o tratamento. É muito refrigerante, chocolate. Não tem dieta que agüente.

Seu assessor completa: ¿ E ainda tem as buchadas de bode, né?

Para compensar os excessos, Alckmin aproveita o raro tempo ocioso para a meditação, prática que aprendeu com o doutor Jou. Nas horas de vôo, ¿esquece de tudo¿: fecha os olhos, faz a posição de Lótus e conta 1, 2, 3...

Alckmin lê tudo o que encontra sobre medicina tradicional chinesa. Anestesista, ele convenceu a mulher, Lu, e a filha, Sophia, a também usarem a acupuntura. Jou costuma interromper suas atividades na clínica para atender à família Alckmin. Por questões éticas, não revela quanto cobra. Uma sessão de acupuntura com o médico chinês custa R$120 ¿ um pouco mais caro que sessões em clínicas menos badaladas.

Embora não esconda a simpatia por Alckmin (há adesivos do candidato na clínica), o chinês admite que já votou no PT e conta que foi chamado para tratar da bursite que acomete Lula. Assim que ele foi eleito, em 2002, o médico do presidente, o cardiologista Roberto Kalil, pediu ajuda às agulhas do acupunturista de Alckmin. Foram quatro ou cinco sessões. Joul faz mistérios sobre a reação de Lula, mas revelou a diferença que percebeu entre os dois pacientes:

¿ O Geraldo é muito mais controlado. Até por ser anestesista, ele tem mais sangue frio.

Recentemente, Jou foi acusado de ser favorecido pelo governo paulista com anúncios oficiais na sua revista, a ¿Chan' tao¿. A revista recebeu pelo menos R$120 mil do governo, num negócio que está sendo investigado pela Assembléia Legislativa. Ele nega favorecimento.