Título: PF QUER AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 22/10/2006, O País, p. 19

Estamos sendo usados politicamente¿, diz presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal

BRASÍLIA. Acostumados a trabalhar nos bastidores, agentes do setor de inteligência e delegados da Polícia Federal foram lançados no centro do debate eleitoral pela investigação sobre a origem do R$1,7 milhão apreendido com os petistas que tentavam comprar do empresário Luiz Antônio Vedoin um dossiê contra os tucanos. Até agora considerada um avanço no combate à corrupção, mesmo pelos seus adversários dentro da corporação, a gestão do delegado Paulo Lacerda está sendo criticada internamente.

Preocupados em blindar a instituição das pressões políticas, os delegados da PF desengavetaram uma campanha que seria lançada em junho, mas estava suspensa para não trazer o debate à tona em meio à campanha eleitoral. Os delegados federais querem autonomia administrativa e financeira para a PF e que seu diretor-geral tenha mandato que não coincida com o do presidente da República.

Foi isso o que o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, Sandro Avelar, disse aos presidentes do PSDB, Tasso Jereissati; do PFL, Jorge Bornhausen; e do PPS, Roberto Freire, na terça-feira.

¿ Enquanto não tivermos nossa autonomia prevista em lei, sempre estaremos sujeitos a dúvidas quanto à isenção do nosso trabalho ¿ diz Avelar, que defende a investigação da PF no caso do dossiê.

Desde que assumiu a direção da PF, Lacerda, um delegado que tem em seu currículo investigações de repercussão nacional, como a do caso PC Farias e a do Banco Nacional, parecia ter livrado o órgão da tradicional divisão interna, colocando todos os grupos para atuar nas grandes operações que deram visibilidade à PF.

¿ Estamos vivendo um clima ruim. Ou agradamos ao governo ou desagradamos. Estamos sendo usados politicamente e tudo que fizermos reflete de um lado ou de outro. Nossa postura é de polícia republicana, independente e cidadã e dentro dos parâmetros de autonomia que pleiteamos no Congresso. Trabalhamos com a idéia de independência funcional ¿ diz o presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Armando Coelho.

Segundo o delegado, o principal embate dentro da PF na investigação sobre a origem do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê foi sobre a divulgação das imagens do dinheiro apreendido.

¿ A celeuma interna foi porque, se sempre mostramos o que tinha acontecido, por que não mostramos agora? Mas se mostrássemos era político e, se não mostrássemos, também era político. Estamos em xeque ¿ reclama ele.