Título: MUDANÇAS À VISTA
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 23/10/2006, O GLOBO, p. 2

Nos dias que antecedem as eleições que podem lhe dar um segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala cada vez mais, para petistas e aliados, sobre os erros políticos que não pretende repetir. Uma das principais decisões já adotadas se refere à montagem do governo. O presidente vai operar diretamente, pois avalia que a delegação do primeiro mandato não deu certo.

Escaldado pela crise política, que quase lhe custou o mandato, o presidente Lula pretende respeitar a realidade que emergiu das urnas em outubro. O presidente e seus principais assessores avaliam que será muito difícil governar e construir uma maioria estável no Congresso sem incorporar, de fato, o PMDB ao governo. Pelos planos do presidente, o PMDB terá uma participação importante na gestão, em cima de uma plataforma comum de viés nacionalista e social. E, por isso, o tamanho do PT no governo será reduzido e a presença dos petistas ficará mais próxima de seu peso político parlamentar.

O presidente Lula, de acordo com um assessor, precisa criar um bloco sólido no Congresso. Somente assim será possível impedir que a oposição, mesmo tendo sido derrotada nas urnas, continue contestando seu governo. Sacramentar a coalizão passou a ser uma necessidade, sobretudo agora que a oposição pretende ampliar as investigações da CPI dos Sanguessugas. Para garantir a unidade das forças que lhe apóiam, o presidente pretende interferir abertamente na sucessão das mesas da Câmara e do Senado. Lula não quer nem ouvir falar de uma disputa que possa fragilizar, de saída, sua base, e quer a reeleição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ele tem dado sinais nesta direção como, por exemplo, fazer questão de levar a tiracolo no segundo turno, e dar a palavra nos comícios, para Aldo Rebelo.

Calejado pela pancadaria de que foi alvo nos últimos dois anos, o presidente Lula não pretende apenas comandar pessoalmente a montagem de seu governo e participar mais da política parlamentar. Ele também, de acordo com um de seus assessores, vai falar mais com a imprensa. No comando do governo existe um consenso que o presidente errou ao ter procurado, no primeiro mandato, a comunicação direta com a população, rejeitando a intermediação da imprensa.