Título: JUNGMANN ACUSA PF DE RETER DADOS SOBRE DOSSIÊ
Autor: Carolina Brígido e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 23/10/2006, O País, p. 4

Vice-presidente da CPI dos Sanguessugas quer cobrar no STF entrega de relatório oficial das investigações

BRASÍLIA. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, quer entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Polícia Federal. Segundo o parlamentar, até agora a comissão não recebeu oficialmente o relatório parcial das investigações policiais sobre a tentativa de compra, por petistas, de um dossiê contra políticos tucanos. A ação judicial pediria o envio imediato do documento à CPI, conforme determinou a Justiça de Mato Grosso.

¿ Isso configura um crime e um verdadeiro desrespeito ao nosso trabalho. Estamos diante de um caso de obstrução da investigação por parte da Polícia Federal. Eles não nos enviaram sequer uma folha de papel. O relatório que eu tenho aqui me foi entregue pela imprensa. Nem sei se é verdadeiro ¿ protestou o deputado.

A assessoria de imprensa da Polícia Federal disse que o juiz da 2ª Vara Federal de Cuiabá (MT), Jefferson Schneider, orientou a instituição a não repassar dados da investigação diretamente à CPI dos Sanguessugas. Segundo a assessoria, a CPI deve se dirigir ao juiz para levantar as informações, que só seriam entregues ao presidente da comissão, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).

A assessoria da PF negou que as investigações estejam lentas. O órgão também deixou claro que não quer entrar em polêmica com o vice-presidente da CPI.

Raul Jungmann anunciou que apresentaria ontem ao presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-SP), a sugestão de partir para a briga judicial para garantir o acesso ao relatório. Caberá a Biscaia decidir se entra ou não com a ação em nome da CPI dos Sanguessugas.

Membros da comissão se reúnem hoje para discutir a possibilidade de não interromper o trabalho durante esta semana. Segundo Jungmann, algumas pessoas suspeitas de participar das negociações do dossiê precisariam ser ouvidas em depoimento antes do segundo turno, marcado para o próximo domingo. Um desses investigados seria Abel Pereira, empresário ligado ao ex-ministro da Saúde José Serra.

¿ Eu acho decisivo. Gostaria que ele (Abel Pereira) já estivesse sendo ouvido na próxima semana para dar as explicações necessárias a respeito das acusações que lhe são imputadas. O quanto antes, melhor ¿ afirmou o parlamentar, acrescentando que o empresário deveria prestar depoimento à CPI antes do segundo turno das eleições.

O deputado disse que ficou particularmente indignado com o vazamento do relatório para a imprensa antes de chegar às mãos dos integrantes da CPI. Ele ressaltou que o documento divulgado está incompleto, pois não traz os anexos com as transcrições de conversas telefônicas gravadas e os cruzamentos de dados obtidos com quebras de sigilo.

¿ Foi vazado só o que era de interesse? ¿ questionou.

Para Jungmann, a demora em enviar o relatório à CPI colabora para atrasar ainda mais as investigações sobre a tentativa de compra do dossiê. Ele acredita que os mais prejudicados com isso são os eleitores, que não terão acesso à conclusão de boa parte das investigações antes de irem às urnas para escolher o presidente da República.

¿ É do interesse de todos nós a elucidação dos fatos antes do segundo turno. Esse atraso só ajuda os criminosos. Só interessa a quem comete o crime ou a quem se predispõe a ocultá-lo ¿ opinou o deputado.