Título: LULA INVESTE NO DISCURSO DE DIVISÃO DE CLASSES
Autor: Plínio Teodoro
Fonte: O Globo, 23/10/2006, O País, p. 5

A verdade nua e crua é que, no programa político da elite, desde que Cabral pôs os pés aqui, o pobre não está incluído¿

SÃO PAULO. A uma semana da decisão do segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concorre à reeleição, voltou a apostar num discurso de divisão de classes e a atacar as elites. Segundo Lula, ¿rico não precisa do Estado brasileiro¿ e ¿pobre só tem importância¿ em época de eleições. Ele disse que seus adversários ¿deveriam agradecer a Deus¿ pelas chances de sua reeleição ¿para deixar o Brasil muito melhor¿.

¿ O rico não precisa do Estado brasileiro, quem precisa é o povo pobre deste país. Quem precisa de universidade é o pobre, porque o rico pode pagar ou até estudar em Paris, mas pobre ou tem faculdade ou vai passar a vida inteira sem se formar ¿ afirmou Lula, em discurso para cerca de quatro mil pessoas em Cidade Tiradentes, bairro pobre da Zona Leste de São Paulo.

¿Em época eleitoral, pobre vale mais do que banqueiro¿

Segundo o petista, ¿desde Cabral¿ a elite só se lembra dos pobres durante as eleições.

¿ A verdade nua e crua é que, no programa político da elite, desde que Cabral pôs os pés aqui, o pobre não está incluído. Pobre só tem importância em época eleitoral. Em época eleitoral, pobre vale mais do que banqueiro, mas depois das eleições pobre não é convidado nem para tomar um cafezinho.

Coube ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB), fazer o mais duro ataque ao candidato tucano, Geraldo Alckmin, a quem chamou de ¿personagem de propaganda do Itaú Personalité¿, agência para correntistas de alto poder aquisitivo.

¿ Você olha o nosso candidato Alckmin, parece personagem da propaganda daquele Itaú Personalité, o público dele parece público de torneio de tênis na Costa do Sauípe. Eles dão as costas para o povo brasileiro. Este é um país de todos, e não de jogadores de tênis apenas.

O cantor Netinho de Paula manifestou apoio à Lula e classificou as eleições presidenciais como uma ¿luta de classes¿.

¿ Vim manifestar apoio a um cara que já passou pelas coisas que a gente passou, um cara que viveu coisas que só a gente que é do gueto viveu. Não dá para ter dúvida, esta eleição é um divisor de águas porque é uma luta de classes.

Apesar desses discursos, Lula rebateu as acusações da oposição de que quer dividir o país entre ricos e pobres.

¿ Não quero dividir. Já nasci pobre. Se dependesse de mim, a gente não tinha pobres e ricos, só tinha ricos.

Acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, Lula chegou a Cidade Tirantes por volta das 11h30m. Antes de subir ao palanque, Lula fez uma caminhada e improvisou um corpo a corpo com eleitores. Também estavam presentes a ex-prefeita Marta Suplicy e os ministros Luiz Marinho (Trabalho), Celso Amorim (Relações Exteriores), e Matilde Ribeiro (Igualdade Racial). Ao discursar, Lula disse que, em princípio, ficou chateado por não ganhar no primeiro turno, mas agora está feliz:

-¿ Deus garantiu o segundo turno. No começo fiquei chateado. agora estou feliz, porque no segundo turno a gente vai provar quem é quem. O povo está sentindo a diferença dos projetos. De um lado, um que só tem interesse em atender os interesses de uma pequena elite, e do outro lado nosso projeto, que quer governar para todos e que sabe que quem merece atenção especial é o povo pobre.

Para Lula, a oposição está apavorada porque seu governo faz mais que em dois governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

¿ O pavor deles é que este pernambucano criado em São Paulo, sem formação, com curso de torneiro mecânico foi capaz de fazer em quatro anos mais que o ¿dotô¿ em oito ¿ ironizou ele, que não fez referência às denúncias de corrupção.

Lula disse que os adversários devem pedir a Deus para que ele seja reeleito:

¿ Com todo o respeito, ao invés de meus adversários ficarem com raiva, com tanta bronca de mim, deveriam pedir a Deus que eu ganhasse porque eu ia deixar o país muito melhor para o próximo governo.

* Do Globo Online, especial para O GLOBO