Título: FH: `Nós não vamos sabotar o Brasil ¿
Autor: Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 24/10/2006, O País, p. 10

Tucano afirma que oposição não tentaria golpe e que Lula, a quem chamou de fanfarrão, usa tática nazista

Em meio à especulação de que a oposição poderá trabalhar pelo impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva num eventual segundo mandato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso argumentou ontem que os partidos que estão fora da base do governo não pretendem provocar um golpe de Estado nem sabotar o Brasil, mas admitiu que o PSDB será "duro" na cobrança de responsabilidade. Num almoço pela candidatura do tucano Geraldo Alckmin a presidente, Fernando Henrique chamou Lula de ¿fanfarrão¿, o comparou ao responsável pela propaganda nazista, Josef Goebels, e disse que a diferença entre os dois candidatos está na moralidade e na ética.

Ao chegar ao Clube Pinheiros, onde cerca de mil convidados, entre artistas, esportistas e pequenos empresários pagaram R$100 cada para um almoço de campanha, Fernando Henrique disse acreditar que, diante da crise política instalada no país, dificilmente o futuro presidente conseguirá trabalhar por um pacto de governabilidade.

¿ O PSDB é contra a impunidade. Agora, imaginar que queremos um golpe ou que vamos sabotar o Brasil, não faremos isso porque não somos iguais a essa gente. O PSDB vai ser duro na cobrança ¿ disse Fernando Henrique, num discurso sintonizado com o dos demais aliados de Alckmin.

¿ Não tenho dúvidas de que o período pós-eleição vai ser nervoso ¿ disse o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). O senador do PFL do Piauí Heráclito Fortes assinou embaixo. Virgílio completou:

¿ Erramos quando acreditamos que haveria um pacto de governabilidade nesse governo. Agora seremos muito mais vigilantes ¿ disse o senador.

Num discurso de sete minutos, o ex-presidente levantou a platéia com críticas ao presidente Lula. Lembrou que ele mesmo perdeu a eleição para a Prefeitura de São Paulo quando as pesquisas de intenção de voto e de boca de urna apontavam para a sua vitória e fez um paralelo com a situação em que se encontrava nas pesquisas à época em que disputou a corrida presidencial com o petista pela primeira vez.

¿ Em 1994 saí do Ministério da Fazenda com 8% a 10% (em pesquisas de intenção de voto) e o fanfarrão (Lula) tinha 40%. Acabei ganhando no primeiro turno, e com ricos e pobres. Em 98, eles falavam o diabo e eu nem gosto de repetir porque é técnica do nazista, que mente, mente, até que pega. E pega mesmo. Hitler foi eleito assim, mas teve um na Itália que não foi. O Berlusconi não foi, mas é o mesmo estilo de (Josef) Goebels ¿ emendou o ex-presidente, referindo-se à estratégia de contar reiteradas mentiras para que se transformassem em verdade.

A opinião pública, analisa o ex-presidente, é volátil e, por essa razão, os partidos precisam mudar sua percepção em relação ao eleitorado.

¿ Não estou dizendo que os institutos (de pesquisa) estão errados, mas hoje a opinião pública é volátil, a opinião muda muito, e nós precisamos mudar.

A cinco dias da eleição no segundo turno, Fernando Henrique disse que até domingo Alckmin precisa ¿falar a verdade olhando no olho do eleitor¿ para mostrar diferenças, principalmente no que se refere à ética e à moral, em relação ao presidente Lula.

¿ A diferença é de moralidade, concepção, e a de não proteger amigos. O Geraldo Alckmin simboliza outro estilo de governar, e precisamos acabar com esta confusão. Deve-se discutir a distribuição de renda e melhoria do salário mínimo, mas para isso não precisa roubar.