Título: DÍVIDA EM TÍTULOS CHEGA A R$1,06 TRILHÃO
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 24/10/2006, Economia, p. 28

Tesouro Nacional pagou em setembro R$12 bi em juros, apesar da redução da taxa básica nos últimos meses

BRASÍLIA. As sucessivas reduções feitas pelo Banco Central (BC) na taxa básica de juros, a Selic, nos últimos 13 meses ainda não foram suficientes para baixar a conta de juros paga pelo Tesouro Nacional sobre a dívida mobiliária federal (em títulos públicos). Em setembro, o estoque desse endividamento atingiu R$1,061 trilhão, uma elevação de 2,2% sobre agosto, devido a uma emissão líquida de papéis de R$10,7 bilhões e ao pagamento de juros de R$12,15 bilhões. No acumulado do ano, a conta de juros chegou a R$106 bilhões, enquanto a dívida cresceu menos: R$82,2 bilhões. Mas isso só ocorreu porque houve resgates de títulos no período.

Segundo o economista da Tendências Guilherme Loureiro, a queda da Selic ainda não teve reflexo significativo sobre a dívida porque o estoque também sofre impacto de títulos prefixados, que têm custo alto para o governo. O Tesouro trabalha para aumentar a participação dos prefixados porque esses papéis dão maior previsibilidade aos resgates.

¿ O governo está reduzindo a parte da dívida indexada à Selic, o que é bom para o perfil. Mas também está colocando mais dívida prefixada, que tem custo alto ¿ disse Loureiro.

Em setembro, por exemplo, o Tesouro fez uma emissão líquida de R$17,3 bilhões em papéis prefixados. Com isso, a fatia desses títulos na dívida subiu de 31,5% em agosto para 32,8%.

¿ Esse é o maior percentual de participação de prefixados na dívida desde o início da série histórica, em dezembro de 1999 ¿ disse o coordenador da dívida pública, Ronnie Tavares.

Já a parcela da dívida indexada à Selic caiu de 42,5% em agosto para 41,5%, devido a um resgate líquido de R$6 bilhões. O total da dívida atualizado por índices de preços permaneceu estável em 21,5%. Tavares afirmou que, apesar de as taxas pagas pelos papéis prefixados ainda estarem elevadas, a curva de juros já está sendo influenciada pela queda da Selic. Segundo ele, a taxa média paga sobre um título prefixado com vencimento em julho de 2007 nos leilões feitos pelo Tesouro em setembro variou entre 14% e 13,61%.

Prazo médio permaneceu de um mês para o outro

Em setembro, a parcela da dívida atualizada pela variação da taxa de câmbio ficou em 1,99%. Quando se consideram as operações de swap reverso ¿ em que o governo paga juros e, em troca, recebe a variação do dólar ¿ a parcela da dívida exposta ao câmbio ficou negativa em 1,34%, o que significa que o governo tem agora um crédito de R$14,2 bilhões.

O prazo médio da dívida permaneceu praticamente constante, passando de 29,8 meses em agosto para 29,7 meses em setembro. Já a parcela do estoque com vencimento no curto prazo (em até 12 meses) aumentou de 39,2% para 40% no mesmo período.