Título: IRAQUE ESTÁVEL SÓ EM 18 MESES
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Fonte: O Globo, 25/10/2006, O Mundo, p. 39

Comandante americano não descarta envio de mais tropas

BAGDÁ. Num período de eleições nos EUA e de crescimento de especulações sobre mudanças de estratégia que Washington estaria considerando em relação ao Iraque, membros do alto escalão americano afirmaram ontem que o sucesso da operação militar no país ocupado "ainda é possível, apesar das dificuldades e ameaças enfrentadas, num prazo de 12 a 18 meses". O general George Casey, que comanda 140 mil soldados, e o embaixador americano no Iraque, Zalmay Khalilzad, disseram, durante uma entrevista conjunta realizada em Bagdá, que o governo iraquiano está aprontando um calendário para desarmar milícias, combater os insurgentes e resolver os problemas econômicos.

- Acho que as forças iraquianas serão capazes de garantir a segurança com um suporte mínimo dos EUA - disse Casey.

O general lembrou, no entanto, que os Estados Unidos - apesar de precisarem ter em mente a redução da presença militar no Iraque - não deveriam hesitar em mandar mais tropas "caso necessário".

Bush não usa mais 'manter o curso' em seu discurso

As declarações dos líderes americanos no Iraque coincidiram com uma afirmação da Casa Branca de que o presidente George W. Bush não está mais usando a frase "manter o curso", quando se refere à situação do Iraque.

- A frase dava a impressão errada de que não há flexibilização em relação à situação do país, de que o governo embarcou numa estratégia sem permitir mudanças. Na verdade, é o oposto disso - disse o porta-voz Tony Snow.

Nos últimos dias, a imprensa americana trouxe depoimentos de várias autoridades confirmando a intenção de Bush de mudar a estratégia militar e outras políticas, caso o Iraque não consiga chegar à estabilidade. Bush já frisou não ter "uma paciência infinita" em relação ao Iraque, e disse esperar que seus habitantes "tomem mais responsabilidade sobre tornar seguro o seu país". Uma das novas estratégias teria sido abordada por Casey e Khalilzad: a de que os iraquianos estão trabalhando num calendário para combater seus principais problemas.

Cerca de 90 americanos morreram somente este mês. As mortes de mais três foram anunciadas, ontem, e um iraquiano, que trabalhava como tradutor para os americanos, está desaparecido desde segunda-feira - o que gera grandes operações por sua busca. Ao comentarem as dificuldades enfrentadas pelas tropas, Casey e Khalilzad afirmaram que enfrentam "não apenas sunitas da al-Qaeda como inimigos, mas também o Irã xiita e a liderança síria", que, segundo os dois, "decididamente pouco ajudam e realizam políticas cínicas" como, por exemplo, fornecer armas para grupos rebeldes.