Título: MORALES: BOLÍVIA VAI CONCORRER A VAGA NA ONU
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Fonte: O Globo, 25/10/2006, O Mundo, p. 40

Presidente anuncia que Venezuela renunciará à disputa por cadeira no Conselho de Segurança em favor de país aliado

LA PAZ. O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ontem que seu país foi convidado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, a ser o candidato alternativo para uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU. Diante do impasse entre Venezuela e Guatemala, que disputam voto a voto os dois terços de aprovação necessários da Assembléia Geral, Morales disse que Chávez estaria disposto a abrir mão da vaga para o país aliado.

- O comandante Chávez me telefonou nesta manhã (ontem), disse que não tem como conseguir os dois terços de aprovação e afirmou logo em seguida que gostaria que a Bolívia fosse a candidata alternativa. Disse a ele que aceito o convite. Somos candidatos ao Conselho de Segurança - disse o presidente durante um discurso para empresários no interior do país.

Morales disse ainda que vai começar um trabalho diplomático na ONU para obter os votos necessários. A Assembléia Geral deve se reunir hoje para uma nova rodada de votações.

- Estou confiante de que podemos obter o consenso. Nossos embaixadores vão se mobilizar para isso o mais rápido possível - afirmou o presidente.

Bloco anti-Chávez pode não aceitar a candidatura

A Venezuela, no entanto, declarou ontem que ainda está avaliando o impasse na disputa. O governo da Guatemala também não se manifestou sobre a candidatura da Bolívia. Para ser o candidato de consenso, a Bolívia precisa ter o apoio da Guatemala, que precisa desistir de sua candidatura.

Na tarde ontem, pouco antes da declaração de Morales, a Venezuela havia rejeitado a retirada em conjunto de sua candidatura e a da Guatemala, que havia sido sugerida na véspera em uma reunião do Grupo Latino-Americano e o Caribe (Grulac). A proposta havia sido feita pelo governo guatemalteco após 35 votações sem se chegar a um resultado. A Venezuela sofreu 34 derrotas e teve apenas um empate com seu concorrente.

Segundo analistas, nem Venezuela, que tem o apoio de Cuba, Bolívia e dos países do Mercosul, incluindo o Brasil, nem a Guatemala - apoiada pelos Estados Unidos, México e Colômbia - têm chances de conseguirem os dois terços dos votos. Eles afirmam que a solução seria o lançamento de uma candidatura de consenso, como Uruguai, Paraguai ou Jamaica, países que poderiam ter apoio de toda a assembléia. Já a Bolívia, segundo eles, poderia gerar resistências no bloco que não vota com a Venezuela.

- Por ser um claro aliado de Caracas, acho difícil que a Bolívia consiga o apoio para obter os votos necessários. Quem não quer a influência da Venezuela no conselho certamente não vai querer a Bolívia sentada à mesa pois seria praticamente a mesma coisa, apesar da derrota de Hugo Chávez - disse um diplomata sul-americano.

Países como o Brasil e Argentina começaram a pressionar os candidatos para uma solução rápida, temendo que o impasse enfraqueça a posição do grupo na ONU.

- É necessário que se encontre um candidato de consenso para que se evite um desgaste maior da região na ONU - disse o chanceler brasileiro Celso Amorim.