Título: MAIORIA DOS QUE TÊM BOLSA TRABALHA, AFIRMA ESTUDO
Autor: Pelipe Awi
Fonte: O Globo, 26/10/2006, O País, p. 9

Segundo Ipea, 69% têm emprego, sendo 15% formais

CAXAMBU (MG). Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que 69% dos beneficiários economicamente ativos de programas de transferência de renda federais trabalham, sendo que 15% têm emprego formal. Os números foram divulgados ontem durante o 30º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e têm como base dados da Pnad de 2004. Naquele ano os programas ainda não tinham sido unificados no Bolsa Família e, por isso, os dados consideram principalmente o Bolsa Alimentação e o Bolsa Escola, entre outros.

Segundo a pesquisadora Luciana Jaccoud ¿ que participou do trabalho ao lado de Guilherme Delgado, Jorge Abrahão de Castro e José Aparecido Ribeiro ¿, o estudo expõe duas realidades dos programas de transferência de renda. A primeira é a sua importância para a redução da desigualdade e pobreza sobre uma camada que jamais foi atingida por outras políticas, como no caso do Bolsa Família; a segunda é que eles, sozinhos, não são suficientes. Existe a necessidade de virem acompanhados de políticas públicas que promovam uma melhor remuneração no mercado de trabalho:

¿ Isso mostra que se encontra baixa renda entre pessoas inseridas no mercado de trabalho inclusive com carteira assinada. Os beneficiários não estão só nos grotões, estão ao nosso alcance. É um indicador de que as políticas sociais têm os seus limites. É necessário um aumento da participação da massa salarial na renda da economia. Faz parte da discussão sobre a porta de saída, que demanda trabalho estável com renda suficiente para não precisar dos programas.

Pesquisadora alerta para baixa renda de assalariados

A pesquisadora alerta que não é só uma questão de crescimento do país nos moldes do que ocorreu nos anos 70. É fundamental que as políticas sociais estejam inseridas num debate sobre a melhoria do mercado de trabalho.

¿ É o que (o economista) Celso Furtado chama de crescimento com geração de trabalho. Isso é definido como desenvolvimento. Estamos discutindo como a política pública pode intervir nisso ¿ afirma.

Segundo Luciana, o aumento do salário mínimo é apenas uma das formas de se atingir esse objetivo. Ele cita as políticas de apoio à pequena produção rural, que concede crédito, e a aquisição de alimentos, garantindo a agricultura familiar.

O impacto das políticas sociais pode ser avaliado por outros números mostrados ontem, primeiro dia do encontro da Anpocs em Caxambu. Se fossem retirados benefícios como os programas de transferência de renda, a Previdência Social e o Benefício da Prestação Continuada (BPC), o índice de indigência dobraria no Brasil: passaria de 11,3% para 22,6%. Em regiões geográficas, pode quase triplicar, como é o caso do Sudeste (5,1% para 14,3%). No Nordeste, ele sobe de 24,1% para 41,3%; no Norte de 8,8% para 15%; no Sul, de 5,1% para 13,3%; e no Centro-Oeste, de 6,1% para 12,4%.