Título: CONFIANTE NA VITÓRIA DE LULA, MST ROMPE TRÉGUA
Autor: Gelson Netto
Fonte: O Globo, 26/10/2006, O País, p. 15

Sem-terra invadem três fazendas no Pontal do Paranapanema e destroem pasto, anunciando nova onda de invasões

MIRANTE DO PARANAPANEMA (SP). Cerca de 300 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram ontem três fazendas na região do Pontal do Paranapanema, extremo Oeste do Estado de São Paulo, encerrando a trégua dada pelo movimento ao governo Lula na campanha. No início da manhã, eles ocuparam as fazendas São Luís, Santa Cruz e São José, respectivamente nos municípios de Presidente Bernardes, Mirante do Paranapanema e Teodoro Sampaio. Os donos pedirão reintegração de posse na Justiça.

Semana passada, o líder sem-terra do Pontal José Rainha Júnior havia afirmado que a ¿trégua¿ nas invasões só terminaria às 17h do domingo, segundo turno da eleição presidencial. Rainha dissera que os sem-terra não fariam invasões no período eleitoral para não prejudicar a campanha à reeleição do presidente Lula, apoiado pelo movimento. Ontem, porém, Valmir Ulisses Sebastião, coordenador estadual do MST, disse que a trégua acabou e que o movimento já considera a eleição de Lula garantida.

Na Fazenda Santa Cruz, cerca de 50 sem-terra entraram com um trator, conduzido por dois sem-terra e com uma bandeira vermelha do MST, destruindo um pasto de braquiária e preparando o solo para plantio de feijão-mucuna, mandioca e milho. Em três dias, os sem-terra pretendem preparar dez hectares para a lavoura.

Sebastião, que comandou a invasão, avisou que o MST fará em novembro uma ¿grande jornada de luta pela terra¿, principalmente com ocupações:

¿ Não será uma ocupação simples, será maior e com outro caráter: massificar a luta pela reforma agrária.

Ele avaliou que as cobranças num eventual segundo mandato do petista se intensificarão por parte do MST.

¿ Lula não fez um bom governo. A reforma agrária saiu da pauta do governo. Mesmo assim, é melhor que (Geraldo) Alckmin (PSDB), que representa a burguesia ¿ disse, completando: ¿ Se não mudar a política econômica, não muda a questão social.

Sebastião cobrou do governo de São Paulo a utilização para a reforma agrária de R$28 milhões liberados pela União.

¿ Até agora o estado não fez nada, não assentou uma família, mesmo com dinheiro na mão e com fazendeiros querendo negociar. O Itesp (Instituto de Terras de São Paulo) virou uma imobiliária.

Itesp diz que governo negocia assentamento

O coordenador regional do Itesp no Pontal, Marco Túlio Vanalli, disse ontem que o governo do estado negocia com fazendeiros a aquisição de quatro áreas para assentar 200 famílias. Ele explicou que o estado aguarda parecer do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

¿ É um procedimento normal, para que não paire dúvida sobre os acordos ¿ explicou.

Vanalli disse que, dos R$28 milhões prometidos pela União, já estão disponíveis R$4 milhões. Nos acordos com fazendeiros, o estado paga as benfeitorias existentes nas áreas.

¿ Estamos trabalhando, não falta vontade ao estado ¿ defendeu Vanalli.

Um dia antes das invasões no Pontal, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo recusou recurso e manteve a condenação de José Rainha a dois anos e oito meses de prisão por porte ilegal de arma.