Título: Dia de muito... véspera de pouco
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 26/10/2006, Economia, p. 27

Com gastos maiores, fica para último trimestre o compromisso de manter meta fiscal

Aantecipação de metade do décimo terceiro salário de aposentados e pensionistas para setembro levou o setor público consolidado a fazer, no mês passado, a menor economia para pagamento de juros dos últimos dois anos e meio. O superávit primário acumulado por União, estados, municípios e estatais ficou em 4,28% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de riquezas produzidas no país), encostado na meta de 2006, de 4,25%. Com isso, o governo deixou para o quarto trimestre a tarefa de administrar na ponta do lápis despesas e receitas, enquanto no mesmo período de 2005 a meta já estava assegurada. Mas, analistas e o Banco Central (BC) apostam que o compromisso, assumido na Lei de Diretrizes Orçamentárias, será cumprido.

¿ Ao contrário de outros anos, nestes últimos meses o governo terá de pisar no freio. Em setembro, surpreendeu o aumento de 19% nos gastos de custeio e de capital do governo federal ¿ advertiu o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.

Pelos dados divulgados ontem pelo BC, a economia para pagamento de juros da dívida em setembro só superou os 4,16% de maio de 2004, ficando muito aquém dos 5,17% de um ano antes. O pagamento do décimo terceiro de aposentados e pensionistas é sempre feito, integralmente, em dezembro. Este ano, em abril, ao ser negociado o reajuste do salário mínimo, acertou-se a antecipação de metade: R$5,9 bilhões.

¿ A carga que teríamos em dezembro foi minimizada. É de se esperar resultados melhores daqui para frente. Os números apontam o cumprimento da meta (de 4,25%) ¿ disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Em setembro, o superávit primário ficou em R$4,575 bilhões, 65,3% abaixo dos R$13,182 bilhões de agosto. O Governo Central (governo federal, BC e INSS) foi o grande responsável pelo recuo, com superávit de apenas R$65 milhões. O resultado do setor público em geral só não foi pior devido aos governos regionais e às estatais. Estados e municípios tiveram superávit de R$1,994 bilhão no mês ¿ o melhor para setembro desde 1991 ¿ e as estatais, de R$2,516 bilhões.

O déficit nominal do país (quando são incluídos os juros da dívida a serem pagos) ficou em R$6,414 bilhões em setembro, quase três vezes mais do que no mês anterior. O especialista em contas públicas Raul Veloso, que também aposta no cumprimento da meta, lembra que, a partir de 2007, o governo terá de reduzir seus gastos. E Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú, alerta:

¿ Não faz sentido cortar gastos sociais, importantes para o país.